vou indo aprendendo a contar corrigido - eu, personagem de mim
Conto e escuto como se não fosse eu. Como não tenho
lembranças do acidente ou do processo de recuperação, de qualquer dor, de
qualquer ocorrência ao meu redor, vou ouvindo e me fazendo personagem. Me emociono,
me divirto, repito o que me é contado em tom de ‘causo’, invisto no suspense.
Ouço e aprendo. Tudo como se não fosse eu.
Passei meses sem
entender aquele tanto de gente ao meu redor, a comida para mim, na cama, minha
mãe me dando na boca, porque eu não comia sozinha, as pessoas me ajudando a
caminhar, a ficar de pé. Passei meses sem entender e sem questionar. Eu não estava lá.
E não me lembro de um momento do ‘dar-me conta’. A certa altura, eu sabia do acidente e de
algumas de suas nuances. Mas sigo aprendendo de mim. Sempre que minha mãe ou
alguém próximo me conta alguma história relativa ao acidente ou aos processos
adjacentes, descubro algo novo. Que não sabia ou não lembrava.
Hoje, ainda sem muitas lembranças, mas ciente de tudo, a
história que optei por contar e segue comigo, legenda de meus dias, fala de uma
não consciência enorme seguida de dificuldades adquiridas (e superadas). Se
amarra forte na descrição de uma vitória feita de superação. E a conclusão é sem
fim, ‘na estrada’. Sigo meu caminho sem guardar lembranças de dores ou
sofrimentos, nuances, fatos e ‘fotos’ do
acidente , mas carregando comigo um
grande aprendizado na bagagem.
“O eu verdadeiro é
aquele que se inventa, que leva a uma atitude.”
E vc analisa tão bem o que não sentiu e não se lembra!!!!!
ResponderExcluirMárcia Araújo
Menina guerreira, que conta sua historia com uma delicadeza e clareza que somente poetas conseguem! Um grande abraço!Lurdinha
ResponderExcluirVc é exemplo de superação!!! Vc é pura emoção!!! Bjs com carinho, Gisele Lopes.
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