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domingo, 4 de agosto de 2013

eu sou é eu mesmo


vou indo aprendendo a contar corrigido - eu, personagem de mim



Conto e escuto como se não fosse eu. Como não tenho lembranças do acidente ou do processo de recuperação, de qualquer dor, de qualquer ocorrência ao meu redor, vou ouvindo e me fazendo personagem. Me emociono, me divirto, repito o que me é contado em tom de ‘causo’, invisto no suspense. Ouço e aprendo. Tudo como se não fosse eu.

Passei  meses sem entender aquele tanto de gente ao meu redor, a comida para mim, na cama, minha mãe me dando na boca, porque eu não comia sozinha, as pessoas me ajudando a caminhar, a ficar de pé. Passei meses sem entender e sem questionar.  Eu não estava lá.

E não me lembro de um momento do ‘dar-me conta’. A  certa altura, eu sabia do acidente e de algumas de suas nuances. Mas sigo aprendendo de mim. Sempre que minha mãe ou alguém próximo me conta alguma história relativa ao acidente ou aos processos adjacentes, descubro algo novo. Que não sabia ou não lembrava.

Hoje, ainda sem muitas lembranças, mas ciente de tudo, a história que optei por contar e segue comigo, legenda de meus dias, fala de uma não consciência enorme seguida de dificuldades adquiridas (e superadas). Se amarra forte na descrição de uma vitória feita de superação. E a conclusão é sem fim, ‘na estrada’. Sigo meu caminho sem guardar lembranças de dores ou sofrimentos, nuances, fatos e ‘fotos’  do acidente , mas carregando  comigo um grande aprendizado na bagagem.

“O eu verdadeiro é aquele que se inventa, que leva a uma atitude.” 


3 comentários:

  1. E vc analisa tão bem o que não sentiu e não se lembra!!!!!
    Márcia Araújo

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  2. Menina guerreira, que conta sua historia com uma delicadeza e clareza que somente poetas conseguem! Um grande abraço!Lurdinha

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  3. Vc é exemplo de superação!!! Vc é pura emoção!!! Bjs com carinho, Gisele Lopes.

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