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domingo, 27 de outubro de 2013

big brother made in china



Destaques do noticiário ao redor do mundo hoje  mostram  George Orwell como uma espécie de  clarividente, em seu tempo. Ou talvez sua mais conhecida obra, 1984, uma ficção com cenário em um regime totalitário, cujo poder está sedimentado na espionagem ao cidadão comum mais notadamente, tenha servido  de inspiração hoje, em plena era da informação, para gregos e troianos. Leia-se aqui, para capitalistas e comunistas.

Depois da revelação da operação e dos (des)caminhos americanos na obtenção de informação de particulares, sobretudo; a descoberta e divulgação de um sistema equivalente na China não surpreende. Porque seguindo no ritmo ‘orwelliano’, neste outro mundo, com seu regime totalitário comunista, podíamos mesmo esperar encontrar  algum parente perdido do grande irmão. O que causa estranhamento é o vulto, a dimensão do esquema de espionagem, via internet, por aquelas bandas.

Em reportagem da Folha de S. Paulo da sexta feira, dia 11 de outubro de 2013, somos informados que o exército de censores chineses é da ordem dos milhões (como quase toda cifra do país) e a polícia do pensamento ali, em sua versão web, é conhecida pelo título de analista de opinião. Analistas. Plural porque milhões.

Seu trabalho, segundo relato do jornal estatal local,  Beijing News,  consiste em passar o dia vigiando, via aplicativos, as palavras escolhidas  nas pretensas pautas de publicações diversas. Eles são remunerados por comentário negativo apagado ou por publicações positivas realizadas.

domingo, 20 de outubro de 2013

como era no princípio

Gênesis - Sebastião Salgado


Nenhuma fotografia de Sebastião Salgado se encaixa na classificação de natureza morta. Mesmo  aquelas que privilegiam paisagens, seres,  ambientes naturais.

Não, fotos suas não se resumem à natureza porque a penetram e enchem de significado. Parecem nos contar sua história. Seu olhar parece nos falar da origem, do movimento, da fragilidade e da força.

Em exposição no SESC Belenzinho, um dos grandes projetos do fotógrafo, ao qual se dedicou nos últimos oito anos, ‘Gênesis’ é uma jornada em busca do planeta como nasceu. São paisagens terrestres que, apesar da destruição no encalço da história humana, permanecem intocadas em sua majestade. São povos e culturas primitivas, em retratos que nos revelam seus hábitos, rituais e costumes, pedaços de sua história.

Com sua expressividade incomum, ali revelada especialmente em texturas  e escamas, em sua sutil aspereza, Salgado nos convida a refletir e pesar uma reaproximação  de nossa origem, nossa legenda comum.

Diante de reproduções grandiosas de um olhar tão forte e particular, um paradoxo se instala em nós.  A fragilidade e a força, a um só tempo, daqueles ambientes e comunidades, por seu isolamento, sua simbiose, adequação natural um ao outro, por sua ‘Gênese’ conjunta e particular.


 Testemunhando flashes deste olhar incomum, a história nos vem inteira. Sebastião Salgado não se define como um fotógrafo, mas antes de tudo um contador de histórias. E ali, ‘lendo’ esta  sua obra, o entendemos, começo ,meio e fim.  

domingo, 13 de outubro de 2013

sobre a 'não-memória' do pensamento


Em aula recente da disciplina Mídia e Poder, de uma pós que me enche de significados as horas de recreio da vida, o professor nos traria Naomi Klein, em uma sua viagem pelo mundo das marcas, como prato principal. Descartes, no entanto, foi servido como entrada, aquele dia. Era debatido, sobretudo, um pensar sobre o modo de pensar.

Quando o Prof. Dimas trouxe à tona a sentença ‘o mundo que você vê é o que você pensa sobre o mundo’, me perguntei na seqüência: e se não me lembro o que penso sobre o mundo, o que vejo? E quando a memória do pensamento, da opinião, do olhar se esvaem?

Pensei, ligando tudo a um meu caso particular, no papel da memória na definição do self. Que mundo vejo, se não me lembro do que penso sobre o mundo? É um reconstruir de referências do zero?

Em função da perda de uma dita memória recente, algo perto de quinze anos (sem precisão), me coloco na tempestade e me pergunto: o que penso sobre o mundo hoje? O que pensava antes? Como cheguei aqui? Onde cheguei? Sei que vou me reconstruindo, tijolo por tijolo, mas qual o papel de um meu arquétipo e qual o papel de tudo que construí a vida inteira ao meu redor?

As minhas relações e meu entorno, por exemplo, dizem muito de mim. Divido gostos, literatura, música, culinária, prazeres, vontades, idéias, projetos. E tudo isto foi, segundo Jung, determinado pelo meu chamado arquétipo, em processo anterior. Minhas decisões e opções, dele derivadas, me levaram por estas paragens. A questão é que desconfio que talvez agora, faça o caminho inverso. Minhas escolhas vida afora são as referências que guiam minha reconstrução, cimento para meus tijolos; são meu norte.

A esta altura, trago comigo uma pergunta, a que não quer calar: e se eu fosse plantada em outra cultura, na Índia, por exemplo; onde todas as referências se diluíssem?  Eu seria uma outra de mim? Ou o arquétipo de Jung me faria Poliana, onde quer que eu estivesse? Meu modo de pensar permaneceria conduzido por meu olhar? E meu olhar, apesar de toda a diferença, carregaria a mesma angulação, o mesmo grau?

A Poli que são várias, seria uma Poliana Indiana?

domingo, 6 de outubro de 2013

balé musical da basiléia



A coreografia saltava aos olhos de qualquer um mais atento. Os movimentos simbólicos do maestro, seguidos pela movimentação conjunta, ou eventualmente solo, da orquestra. Um balé admirável produzindo sofisticada equação de acordes.

A Orquestra Sinfônica Jovem da Basiléia, suíça, trazendo 70 músicos , entre 15 e 25 anos,  em seu quadro, apresentou em SP, Santos e Ribeirão Preto  no Festival Música Nova Gilberto Mendes, sinfonias sedutoras, indo de Mozart ao ‘pai’ do festival, passando por ‘basileicos’ e outros europeus.

O Festival Música Nova, realizado desde 1962, idealizado por Gilberto Mendes, um dos nomes fundamentais da música contemporânea brasileira,  apresenta concertos sinfônicos e de música de câmara, entre quadros de estudo e pesquisas musicais.

O idealizador do festival, que já foi considerado pós modernista, tropicalista, vaguardista e se define como ‘transmoderno’ segue nos colocando de frente ao novo e propondo misturas. Mendes acredita que a mistura de estilos na música de hoje seja um sinal dos tempos. "O compositor do passado só conhecia a música do seu tempo(… ).Hoje, por meio das gravações, você tem acesso a toda a história da música e à música do mundo inteiro. E é claro que isso vai parar no seu trabalho".

O festival apresenta, assim, diálogos entre o contemporâneo e clássico no ambiente musical erudito, mostrando nuances do que foi original, em seu tempo e sua hora.

E a orquestra seguiu tocando, nos encantando e envolvendo em seu balé. Movimentos quase imperceptíveis, por vezes, traziam marcante efeito sonoro. Movimentos conjuntos eloquentes produziam acordes ora vigorosos, ora delicados.

Buscando mais do novo, seguimos refinando sensibilidades. Aplausos.