Um filme terno, principalmente pelas interpretações das
crianças, tão carregadas em uma naturalidade infantil e questionadora. Apesar
da delicadeza da trama, a todo momento me pegava sorrindo para a tela. Keita,
uma das crianças, já entra em cena conquistando com sua prosa infantil
articulada.
O filme, Pais e Filhos, do diretor japonês Hirazaku
Kore-eda, trata de um caso de troca de
bebês na maternidade que chega a conhecimento dos pais, dos dois lados, quando
as crianças têm, já, seis anos. Com todas as questões emocionais envolvidas e a
fragilidade da trama, o pano de fundo, o âmago da sociedade japonesa em sua
rigidez moral e austeridade dá fortes
cores ao cenário.
O pai de Keita exibe
uma moral dominada pela ética do mundo do trabalho, centrada em eficiência. É um workholic, capitalista e japonês, dois
fortes agravantes. E foca sua relação
com o filho em uma espécie de treinamento, e assim, não se reconhece ou não se
identifica nele, o acha pouco competitivo. A rigidez comportamental e moral da
sociedade japonesa ficam ainda mais claras, por paradoxo, através da figura do
outro pai, lúdico e brincalhão, fazendo o contraponto, em personagem que
concentra características avessas ao estereótipo japonês.
O pai de Keita nos revela sua insatisfação e a ‘não
identidade’ com o filho, quando da descoberta da troca dos bebês: “Agora tudo
está explicado”, ele diz, nos fazendo cúmplices em seu inadequado papel, o pai
de Keita.
Desfazer a troca é um caminho aconselhado pelos médicos. E o
significado deste desfazer nos coloca em
forte dúvida do certo ou errado, neste caso. Uma vida inteira (mesmo que ainda
curta) compartilhada. A questão que fica, eloquente, é o significado da
paternidade e maternidade quando não um processo de vida comum, crescimento,
afeto que nasce da convivência. Os limites e as fronteiras da força dos laços
sanguíneos versus laços nascidos e criados na convivência.
Com diálogos tocantes e cenas reveladoras de um afeto
construído e conquistado cotidianamente, o filme nos inquieta em seu
questionamento.
Olá Poliana, tudo bem? Não conhecia seu blog, fiquei sabendo agora através de Branco. Adorei!
ResponderExcluirBeijos.
Orminda
Poliana, o Koreeda é um dos meus diretores preferidos! já vi quase toda a filmografia dele (tenho inclusive que te passar os que tenho aqui em casa).
ResponderExcluirA "naturalidade infantil e a delicadeza da trama", como você mesma disse, são marcas registradas dos trabalhos mais recentes dele, vide "O Que Mais Desejo" e "Ninguém Pode Saber". Ambos tem crianças (em atuações perfeitas) como personagens principais e são elas que nos guiam durante todo o filme. E é também no desenrolar da trama que vão amadurecendo e "devastando" o espectador.
como fã do Koreeda, já tava curioso pra conferir esse último trabalho dele. agora que li seu post, tô pirando aqui!!