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domingo, 2 de fevereiro de 2014

arte em movimento


Começando pelo fim,  já nos créditos, li: Filme de Papel. E isto, de certa forma, ficou para mim como legenda, definindo aquilo tudo que tinha acabado de ver. Uma nota explicativa de ‘pé de filme’. Em função de seus traços simples e ingênuos, desenhos como os que, crianças, fazemos à mão, sem efeitos .

De estética minimalista e colorida, ‘O Menino e o Mundo’, de Alê Abreu, faz o caminho inverso das animações de hoje, grandes produções quase exclusivamente tecnológicas, presas dentro de seus efeitos.

Aqui, no mundo do menino, os traços são poucos e mínimos, carregados, no entanto, de uma expressividade surpreendente.  Além disto, o filme vai além de seu enredo, apresentando uma beleza plástica incomum, apesar e por causa de sua simplicidade. Mergulhada em metáforas, a estória  segue, enredo afora, derramando significados. Algo surreal, é arte em movimento. Mas ‘peraí’! Afinal, não é isto o cinema? ‘Motion Picture’!

A história, majoritariamente muda, pontuada aqui e ali por diálogos em um dialeto deste outro mundo, conta de uma criança pobre, cujo pai abandona a família para trabalhar em um lugar distante.

A ida do pai para a cidade confere mecanicidade a algumas cenas, onde até então predominava um bucolismo surreal.  A cidade e seus incontáveis vetores, a repetição gestual do trabalho, flashes de exploração econômica e degradação ambiental  pintam o mundo de cinza.

A família, a princípio, mora em uma fazenda onde planta para o consumo próprio em uma vida simples, cheia de carinho e música. O tom  aqui é lúdico e inocente. Onírico, em seu surrealismo.

Cenas de uma colheita de algodão pintam um quadro poético, dando contornos geométricos  à vida como  era no princípio. Simples assim. As cores e formas desenham uma poesia, melancólica, que seja , mas bela e original.

Digna de parêntese é a trilha sonora. Também nos créditos, li uma expressão que me foi definidora em relação àquela produção. ‘Instalação Sonora’. Aquilo era, perceptivelmente, experimentalismo puro em órbita. A trilha, composta por Gustavo Kurlat e Ruben Feffer, conta com a participação de Emicida, Naná Vasconcelos, Barbatuque e um GEM – Grupo Experimental de Músicos.  Em determinados momentos, nos sentíamos perdidos por veredas musicais nascida e criada em consonância com o dialeto do menino e seu mundo.

‘Plantando’ o pai em tudo o que vive, Cuca, o menino, nos dá a dimensão desta ausência como ‘A falta que ama’. O Menino e o mundo. E só!  

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