Começando pelo fim,
já nos créditos, li: Filme de Papel. E isto, de certa forma, ficou para
mim como legenda, definindo aquilo tudo que tinha acabado de ver. Uma nota
explicativa de ‘pé de filme’. Em função de seus traços simples e ingênuos,
desenhos como os que, crianças, fazemos à mão, sem efeitos .
De estética minimalista e colorida, ‘O Menino e o Mundo’, de
Alê Abreu, faz o caminho inverso das animações de hoje, grandes produções quase
exclusivamente tecnológicas, presas dentro de seus efeitos.
Aqui, no mundo do menino, os traços são poucos e mínimos,
carregados, no entanto, de uma expressividade surpreendente. Além disto, o filme vai além de seu enredo, apresentando
uma beleza plástica incomum, apesar e por causa de sua simplicidade. Mergulhada
em metáforas, a estória segue, enredo
afora, derramando significados. Algo surreal, é arte em movimento. Mas ‘peraí’!
Afinal, não é isto o cinema? ‘Motion Picture’!
A história, majoritariamente muda, pontuada aqui e ali por
diálogos em um dialeto deste outro mundo, conta de uma criança pobre, cujo pai
abandona a família para trabalhar em um lugar distante.
A ida do pai para a cidade confere mecanicidade a algumas cenas,
onde até então predominava um bucolismo surreal. A cidade e seus incontáveis vetores, a
repetição gestual do trabalho, flashes de exploração econômica e degradação
ambiental pintam o mundo de cinza.
A família, a princípio, mora em uma fazenda onde planta para
o consumo próprio em uma vida simples, cheia de carinho e música. O tom aqui é lúdico e inocente. Onírico, em seu
surrealismo.
Cenas de uma colheita de algodão pintam um quadro poético,
dando contornos geométricos à vida
como era no princípio. Simples assim. As
cores e formas desenham uma poesia, melancólica, que seja , mas bela e
original.
Digna de parêntese é a trilha sonora. Também nos créditos,
li uma expressão que me foi definidora em relação àquela produção. ‘Instalação
Sonora’. Aquilo era, perceptivelmente, experimentalismo puro em órbita. A
trilha, composta por Gustavo Kurlat e Ruben Feffer, conta com a participação de
Emicida, Naná Vasconcelos, Barbatuque e um GEM – Grupo Experimental de
Músicos. Em determinados momentos, nos
sentíamos perdidos por veredas musicais nascida e criada em consonância com o
dialeto do menino e seu mundo.
‘Plantando’ o pai em tudo o que vive, Cuca, o menino, nos dá
a dimensão desta ausência como ‘A falta que ama’. O Menino e o mundo. E só!
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