O proclamado sentido da vida e a grande beleza, que o
alimenta, já andaram dando pistas, os dois, que não são da ordem do
exponencial. O encanto e ‘esta tal
felicidade’ seriam, no mais das vezes, algo budistas, se enredando mais pelo
simples, natural e até quotidiano.
É a busca e a justificativa principal do protagonista em
cena. Jep Gambardella é o escritor de um
único livro, sucesso extremo, de público e crítica. Rico, bem sucedido, irônico
e ácido, Jep mergulha em desenfreado hedonismo no encalço de uma ‘grande beleza’,
mote de um próximo e esperado best seller.
Estamos em Roma e os ricos, excêntricos, companheiros de Jep em sua incansável busca
de prazer, são impiedosamente retratados como cascas vazias se pretendendo,
buscando sempre a autopromoção. São como
fantoches, fazendo vitrine de si, de suas aspirações e pretensões, tão vazias
quanto suas vidas. Uma fauna sempre atenta ao seu desempenho em cada ato.
Flashes em muitas festas em boates, muita bebida, muito sexo
e muito pó, purpurina e pirlimpimpim. Orgias, bacanais e um consumismo
desenfreado. Tudo muito e tudo sem
motivo ou razão de ser.
O conceito de arte é central em “A Grande Beleza”. Às vezes
hiperbólico ou ridículo e muitas outras cômico. A expressão artística como
extração d’alguma beleza de um caos interior torna hilárias performances de
alguns personagens. Acrobacias intelectuais em tentativas obstinadas de
expressar inquietação, desaguando no ridículo.
Com o andar do roteiro, a falta de significados ganha
destaque. Pessoas ostensivamente mais
interessadas em uma aparência de cultura e inteligência. Alguns pequenos e
poucos cortes para belezas outras, de tom simples e leve, fazem todos os excessos gritarem.
Em um filme de conteúdo forte, ácido, de fotografia
marcante, Paolo Sorrentino nos brinda, a um só tempo, com inquietude e beleza.