Viajando no tempo e no espaço, me encontrei por estes dias,
em Ouro Preto. Viajando no tempo, duplamente. No meu tempo porque havia, já,
algo nas bordas dos quinze anos, que não pisava por aquelas terras. No tempo cronológico porque aquele ‘nosso’
pedaço pulsa passado e história. Viagem
no espaço porque desfruto o privilégio de, sendo mineira, de raiz e coração,
ser também turista por aquelas fronteiras.
E a atmosfera daquelas ladeiras, todas, nos transporta para
além dos limites geográficos. Ali, barrocamente, se respira história e o Rococó
em seu estado original traz a nós, mineiros, uma identidade incomum, em um
rebuscamento de linhas e ângulos, pinturas
e ouro que conversa conosco , nos trazendo, no conjunto, uma harmonia.
Entre ladeira e outra (outras, muitas), subindo e subindo,
visitamos muitas e ricas igrejas, Ricas em nossa história e em sua arquitetura
e arte.
Ali, muito tempo depois de várias excursões de escola, para
ver e entender o barroco e para conhecer in loco as nuances de nossa
‘Inconfidência Mineira’, além de outros pedaços de nossa história colonial...
Então, ali, depois de todo o conceito formado dentro de mim, algo que se
destacou e fez figura em meu olhar foi o
dimensionamento do humano versus
divino, Deus (assim, maiúsculo) v ersus homem (este minúsculo).
Aquelas igrejas todas, de pé direito lá no céu, são de uma
imponência que cala. Inspiram grandeza.
Outra nuance pintada forte em minhas retinas, e esta já
destacada por pintores e desenhistas, vários, que tiveram esta cidade por
modelo, foram os telhados. Eloqüentes e
coloridos em nosso imaginário, identitários de um nosso retrato mental de Ouro
Preto, são os telhados, que parecem reger uma sinfonia barroca para quem olha a
cidade do alto.
Merece nota uma observação na questão da, digamos, harmonia
plástica da cidade. É visível e notória
a existência de limitações na sinalização publicitária cidade afora. Sem paredes ou muralhas pintadas, outdoors ou
faixas e bandeiras. A identificação das
casas comerciais ao longo das ruas se dá por pequenas placas, em um tamanho
padrão no que parece, somente, uma sinalização identitária. Não comprometem,
assim, a harmonia do que já é rebuscado por si e em si.
Olhando para além dos morros do centro histórico, em um
exercício nada fácil de observação e tentativa de análise do todo, além dos
telhados e das fronteiras históricas, vemos os reflexos de um crescimento
desordenado de um centro que concentra, hoje, sítios e atividades ligados ao turismo por todas as
ruas, em muitas das edificações.
É fato que na época áurea (duplamente falando), a população
ali era maior que a de hoje, dada a importância do centro minerador. Mas hoje, grande
parte das edificações destina-se ao turismo; como museus, restaurantes, lojas
de souvenirs, pontos históricos tombados, etc.
Assim, para comportar sua população e atividades da
engrenagem diária de um centro urbano, a cidade teve que alargar suas fronteiras
e o fez ladeiras acima, em ocupações desordenadas, saltando morros e saltando a
vista, fora do centro histórico.
Dentro de suas fronteiras históricas, vemos uma cidade
moldada pelas mãos de um dito ‘Aleijadinho’. Antônio Francisco Lisboa nos presenteou,
através de sua alma inteira, com uma "cid-arte" histórica.
Nestas esquinas, fica claro para nós, lá de ‘dendiminas’ , quanto do barroco temos
em nossa personalidade. Nos rascunham o
temperamento, os morros, as esquinas, o rococó, finalizando este desenho em reserva,
gentileza, a ‘bem-querência’.
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