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domingo, 11 de maio de 2014

ladeira acima, história e arte

Viajando no tempo e no espaço, me encontrei por estes dias, em Ouro Preto. Viajando no tempo, duplamente. No meu tempo porque havia, já, algo nas bordas dos quinze anos, que não pisava por aquelas terras.  No tempo cronológico porque aquele ‘nosso’ pedaço pulsa passado e história.  Viagem no espaço porque desfruto o privilégio de, sendo mineira, de raiz e coração, ser também turista por aquelas fronteiras.
E a atmosfera daquelas ladeiras, todas, nos transporta para além dos limites geográficos. Ali, barrocamente, se respira história e o Rococó em seu estado original traz a nós, mineiros, uma identidade incomum, em um rebuscamento de linhas e ângulos, pinturas  e ouro que conversa conosco , nos trazendo, no conjunto, uma harmonia.
Entre ladeira e outra (outras, muitas), subindo e subindo, visitamos muitas e ricas igrejas, Ricas em nossa história e em sua arquitetura e arte.
Ali, muito tempo depois de várias excursões de escola, para ver e entender o barroco e para conhecer in loco as nuances de nossa ‘Inconfidência Mineira’, além de outros pedaços de nossa história colonial... Então, ali, depois de todo o conceito formado dentro de mim, algo que se destacou e fez figura em meu olhar  foi o dimensionamento do humano versus divino, Deus (assim, maiúsculo) v ersus homem (este minúsculo).
Aquelas igrejas todas, de pé direito lá no céu, são de uma imponência que cala. Inspiram grandeza.
Outra nuance pintada forte em minhas retinas, e esta já destacada por pintores e desenhistas, vários, que tiveram esta cidade por modelo, foram os telhados.  Eloqüentes e coloridos em nosso imaginário, identitários de um nosso retrato mental de Ouro Preto, são os telhados, que parecem reger uma sinfonia barroca para quem olha a cidade do alto.
Merece nota uma observação na questão da, digamos, harmonia plástica da cidade.  É visível e notória a existência de limitações na sinalização publicitária cidade afora.  Sem paredes ou muralhas pintadas, outdoors ou faixas e bandeiras.  A identificação das casas comerciais ao longo das ruas se dá por pequenas placas, em um tamanho padrão no que parece, somente, uma sinalização identitária. Não comprometem, assim, a harmonia do que já é rebuscado por si e em si.
Olhando para além dos morros do centro histórico, em um exercício nada fácil de observação e tentativa de análise do todo, além dos telhados e das fronteiras históricas, vemos os reflexos de um crescimento desordenado de um centro que concentra, hoje, sítios  e atividades ligados ao turismo por todas as ruas, em muitas das edificações.
É fato que na época áurea (duplamente falando), a população ali era maior que a de hoje, dada a importância do centro minerador. Mas hoje, grande parte das edificações destina-se ao turismo; como museus, restaurantes, lojas de souvenirs, pontos históricos tombados, etc.
Assim, para comportar sua população e atividades da engrenagem diária de um centro urbano, a cidade teve que alargar suas fronteiras e o fez ladeiras acima, em ocupações desordenadas, saltando morros e saltando a vista, fora do centro histórico.  
Dentro de suas fronteiras históricas, vemos uma cidade moldada pelas mãos de um dito ‘Aleijadinho’.  Antônio Francisco Lisboa nos presenteou, através de sua alma inteira, com uma "cid-arte" histórica.
Nestas esquinas, fica claro para nós, lá de ‘dendiminas’ , quanto do barroco temos em nossa personalidade. Nos rascunham  o temperamento, os morros, as esquinas, o rococó, finalizando este desenho em reserva, gentileza, a ‘bem-querência’.

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