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domingo, 15 de junho de 2014

expressão plural


Caos temático. Foi uma primeira impressão, com o que via e ouvia dos protestos; nas ruas, nos jornais, das bocas. Opinião reforçada e confirmada com a leitura cotidiana de jornais e portais informativos  e consolidada, por fim, ao assistir documentário sobre o tema.

‘Junho, o mês que abalou o Brasil’, de João Wainer, primeiro doc produzido pela Folha de São Paulo, é, antes de tudo, plural e bem fundamentado em todos os ângulos ali apresentados.  O filme trata das muitas manifestações ocorridas no país ano passado, que tiveram como causa inicial, o aumento da tarifa de transporte em São Paulo. Liderado, a princípio, pelo movimento Passe Livre, foi expressão dos mais diversos descontentamentos, de diferentes origens, da extrema esquerda à extrema direita (e de quem não conseguia definir porque estava lá).

‘Junho’ é uma boa síntese de uma manifestação  múltipla e reflete isto bem na diversidade dos depoimentos e na forte contextualização das múltiplas origens e razões de ser da(s) manifestação(ões).  São muitos e variados os nomes embasando as razões e sem razões de ser de um movimento que foi difundido país afora. São filósofos, analistas políticos, repórteres, sociólogos, integrantes do grupo  Mídia Ninja, manifestantes desconhecidos, entre muitos outros, legendando e traduzindo  o esgotamento de um ciclo político, sem a construção de outro que o substitua.

Fica expresso e patente, o poder convocatório das mídias sociais, da divulgação privada, em massa, contudo. Não foi uma causa única, um partido, uma demanda que os uniu. As pessoas foram para as  ruas com todas as suas diferenças e, muitas vezes, em nome delas. Cada um aglutinou em torno de uma sua causa, com as ferramentas que tinha às mãos, um grupo para gritar e levantar bandeiras consigo.  Todas as causas e causa nenhuma.

O doc é um retrato factual bem fundamentado, didático e cronológico, mostrando   manifestações populares que levantaram o país do ano passado para este, destacando protestos por demandas  que  extrapolam  o consumo.

Diante de apressadas e adiantadas comemorações do resultado das manifestações, o poeta  Sérgio Vaz, um entre os vários depoentes filme afora, (bem) classifica tal êxtase, como ejaculação precoce.  “O Brasil foi lá, deu uma, isto aqui é a revolução e já deu.”.

Com invejável poder sintético, ele bem traduz a euforia sem ‘lastro’ causada pelas manifestações e pelos protestos. O sair às ruas foi banalizado por muitos, em um processo inconsequente.  Porque os possíveis frutos desta pretensa revolução, inegavelmente importante,  se vierem, serão fruto de trabalhos outros.  Ir às ruas foi só o começo.

Um comentário:

  1. “O Brasil foi lá, deu uma, isto aqui é a revolução e já deu.”
    E assim , depois, seguimos na mesma, após este flash de euforia ou lapso de consciência... Vai entender! DRLage

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