Sofisticação instrumental sentida aos primeiro acordes. Acordes,
estes, sinestésicos com a película de que, um dia, foram trilha. Você se sentia
lá dentro das tramas.
Era Mulatu e era Criolo nos levando a Flores Partidas através de uma
densidade que nos invadia os ouvidos chegando até a alma e a fazendo dançar.
O músico e arranjador etíope Mulatu Astatke esteve em São
Paulo, dividindo o palco com o cantor e compositor Criolo. Compartilhando a
mesma banda e apresentando um repertório misto, onde um interagia nas canções
do outro, eles mostraram forte sintonia musical.
Jazzista africano, considerado criador do Ethio Jazz, fusão
deste ritmo com a música latina e com a música tradicional etíope, Mulatu teve
forte participação na trilha sonora de Flores Partidas, de Jim Jarmusch, com
quatro canções. E foram estes primeiros acordes, que ficaram gravados em mim,
minhas primeiras palavras contando deste show pulsante.
A música de Astatke é única, captando influências do jazz e
as transformando, com outras bases sonoras.
Kleber Cavalcante Gomes, ex MC Criolo Doido, hoje nosso
Criolo, cantor, compositor e MC, dono de uma sonoridade nova e estimulante, já
se apresentou ao lado do jazzman etíope em festivais em Londres e Nova York.
Diante da sintonia (e sincronia) evidenciada, a dupla
decidiu repetir a dose em Sâo Paulo.
Ao ouvi-lo cantar em seu ‘Nó na Orelha’, talvez não
imaginássemos que poderíamos presenciar, mais
que a concretização, mas a ampliação dos significados de uma sua canção:
“Atitudes de amor devemos samplear,
Mulatu Astatke, Fela Kuti escutar…”
A sintonia musical era evidenciada pela sofisticação dos
arranjos; pela densidade, pela ‘textura’ do que se apresentava ali.
O rap
em releitura ‘Mulata’.
O Ethio jazz em tons ‘Criolos’.
Toda a complexidade, generosidade percussiva e dos metais
produzindo um som que pulsa. Rico e vibrante. Mulatu + Criolo, uma equação
sonora soando a completude!
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