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domingo, 22 de fevereiro de 2015

viola da memória





Memória afetiva é um ‘troço’ doido.  A memória já é, por si, algo vasto como não podemos, nem sequer conseguimos imaginar. Cabe tudo, todas as vidas que quisermos viver, todos os amores, todas as viagens, todos os livros, filmes, referências, enfim; todas as tentativas de tudo, todos os passos de nossa longa estrada. Mas aquela de contornos afetivos tem um algo mais por falar alto no peito. Além das lembranças na cabeça, nas sinapses e outros caminhos neurológicos, estas pulsam no peito e trazem referências outras, misturando sentidos, sentimentos e cognições, como que contextualizando o fato.

Deixando meus devaneios e partindo para o fato, fui há alguns dias, alguns meses, na verdade, a um show que não esperava ter entre as opções de vida São Paulo tudo sempre tanto. Não que não caiba na amplitude do mercado da terra da garoa (hoje da estiagem). Cabe tudo aqui. É que este moço estava tão distante na mencionada memória afetiva que nem nunca figurou entre as possibilidades.

O moço era o violeiro Almir Sater. Em show no SESC Pompéia, o violeiro, compositor, cantor e instrumentista, que conheci enquanto ator. Foi um ‘Pantanal’ que me levou até ele. E dali, de telas e novelas, transferi a referência para o lado musical que desde sempre me moveu. Comecei a ouvi-lo em notas e canções e significados pantaneiros.

Foi um show intimista ao extremo porque não era um artista no palco. Era um músico. E ponto. Sua postura no palco não diminuía sua arte e nos aproximava, o público. Li, muito antes e depois do show, que ele foi um dos responsáveis pela valoração da viola de 10 cordas, trazendo um toque
mais sofisticado ao instrumento. Uma música caipira pantaneira, refletindo traços populares e eruditos.

Acordes de viola soando deveras familiares e falando fundo dentro d’alma. Me transportei no tempo deixando a chalana me levar embalada pela memória afetiva. A menina noveleira que era e a música que desde cedo me contextualizava. 

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