Impotente diante do inexorável, ainda assim, estabelecendo
alguma luta, sabendo-na vã. Sem épica possível, Juliane Moore nos conduz pelos
descaminhos crescentes e inevitáveis do Alzheimer.
Filme belo, franco e constrangedor, ‘Para sempre Alice’,
traduz para o espectador o desvanecer de sentidos produzido pela doença. Assim,
na pele de Alice, uma brilhante professora universitária de linguística,
afetada precocemente pelo mal de Alzheimer, Moore exibe a dose certa de força e
vulnerabilidade. A Dra Alice Howland é,
assim, uma renomada professora universitária com um casamento feliz com um
pesquisador, três filhos com problemas normais, a quem, ao redor dos 50 anos,
as palavras começam a faltar. Diagnóstico rápido, um caso raro de Alzheimer
precoce, de prognóstico conhecido, o começo do fim de uma vida útil.
Começando por estas palavras que lhe fogem, se perdendo
pelas ruas de Manhattan, deixando passar compromissos, ela vai descobrindo
rastros de seus lapsos no quotidiano e assim nos apresentando o doloroso
(des)caminho do Alzheimer. Dar laço no cadarço se torna uma tarefa árdua porque
muitas etapas; identificar a filha-atriz em uma peça de teatro, entre tantas
outras, é tarefa árdua. Qualquer estímulo a tira do caminho a que se propunha e
a faz se perder... de si, esquecendo o que fazia, o que queria ou buscava. Como
ela mesma descreve, ela segue aprendendo a arte de perder. “This is hell, but
it gets worse”, traduz ela.
E de perda em perda, a impotência diante do tempo... e a frustração
decorrente. Como seguir em frente quando
não há mais nada atrás? O que pode sustentar nossos propósitos, senão a
memória? O filme radiografa o passo a passo da doença, traduzindo –a gradativa
e duramente, a cada cena e Juliane, assim, desfia dor e doçura a cada passo, a
cada lapso.
É uma lenta e inexorável perda de si mesma. Os detalhes mais
comoventes estão em suas desesperadas tentativas de não perder completamente o
rumo de suas tarefas cotidianas, criando lembretes para si mesma das coisas
mais banais. Assim, ela se mune de técnicas e artifícios para não esquecer e persistente,
exercita sua memória exaustivamente. E aí, fica a dor diante da perda da força
do seu querer e de qualquer controle sobre toda função cognitiva, sobre tudo
que ela construiu toda a vida.
Em franco processo de aniquilamento, de deixar de ser quem
um dia foi, Juliane dá um tom franco às perdas que se seguem. Não há
excessos melodramáticos. Uma abordagem franca de um drama tão devastador.
Falou alto em mim, a identidade em alguns momentos. Na perda
do controle sobre si mesmo e sobre o querer, sobretudo. Na tentativa permanente
e incansável de se reencontrar, sabendo que o eu mesmo não está mais lá. Nunca está
após tudo tanto. Eu sou é eu mesma, mas eu mesma outra. Belo e constrangedor, o
filme.
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