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domingo, 22 de março de 2015

estranhamento microtonal


Nunca havia lido ou ouvido nada destes ‘Omnikestra’. De sua música ou do projeto e sua origem. Minha convicção, ao comprar ingresso para o show, falava o nome do Tom Zé.  Fui porque sua participação denotava, para mim, referência e, de certa forma, anuência. E assim, me bastava.

Chegando lá, umas três horas antes do show, detalhe-se, com o intuito de estudar enquanto esperava (porque me descobri produtiva em situações espera), descubro que meu tablet não comporta os vídeos que pedem meu programa de estudos. E aí uma dúvida se plantou entre mim e o evento: ficaria ali e perderia três horas planejadas de estudo ou voltaria para casa para estudar e perderia o show?

Jantando na comedoria enquanto me decidia naquela ‘aposta’, ou não, eis que chega Tom Zé e um dos Omnikestra e se colocam ali, à minha frente, para um jantar pré show.

Sua leveza e displicência, ali na comedoria, com os atendentes e seu entorno, me fizeram, a princípio, ficar. Li novamente o prospecto para saber e me certificar daquilo a que me propunha e tentar encontrar alguma certeza, avalizada por meu companheiro de jantar.

Grupo inédito, o Omnikestra reúne músicos de diferentes gerações que têm relação com a obra e pesquisa de Walter Smetak. O artista suíço, músico violoncelista, compositor, inventor de instrumentos musicais, escultor, e escritor Anton Walter Smetak mudou-se para o Brasil em 1937  e promoveu intensa pesquisa de experimentação sonora com apropriação da matéria e do ambiente local.

Li ali que “muitos dos instrumentos feitos por Smetak utilizavam cabaças, que remetiam aos instrumentos hindus, africanos e dos índios brasileiros , assumindo um caráter fortemente simbólico. Smetak usou o termo ‘Plásticas Sonoras’ para denominar essas criações, que envolvem a contemplação visual do objeto, sua potencialidade como instrumento gerador de som e a simbologia da qual está impregnado”. 

O grupo Omnikestra é, assim, composto por diversos inventores de instrumentos e improvisadores que trabalham com a microtonalidade (vídeo) entre outras técnicas exploradas pelo homenageado.

E bem, para alguém bem pouco entendedora de palavras, versos e trovas, qualquer teoria, enfim, sobre o universo musical, me pareceu algo experimental ao extremo, com alguma cor do Tom Zé, dada sua escolha e participação.

Pois, show começado, não me encontrei, não encontrei a música e ela tampouco  veio ‘falar’ comigo. Achei bem uma confusão de ruídos orquestrados, em instrumentos feitos inusitados (eufemismo), em modos de tocar estranhos, produzindo uma mistura de barulho a que não se consegue classificar como música.  

Foi tão sério o estranhamento que nem esperei o Tom Zé, de quem me despedi na comedoria com um  até daqui a pouco, dado que o veria no show conseguinte. Com dez minutos de show, já queria me levantar. Mas, resolvi me segurar até trinta minutos de show e acabei ficando quarenta e cinco minutos para rabiscar estas impressões que traço agora.

O folheto falava de um estranhamento potencialmente inspirador.  Em mim foi questionador ... desta minha ânsia de conhecer tudo.  O melhor da noite, foi minha saída antecipada com passagem pela comedoria, recheada com um arroz doce com cobertura de paçoca que me encheu a noite de doçura. 

Um comentário:

  1. Belo texto,Poli!! O Tom Zé tem aquela credencial de "senhor fantástico do novo som" mas não consigo navegar por este mar por mais de 30 minutinhos.

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