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domingo, 8 de março de 2015

fábula do erro



O dia de hoje foi um daqueles categorizados como iniciados com os dois pés esquerdos. Foi, na verdade, sem lado errado (ou certo), mas um dia que deveria ser desclassificado no calendário. Dia para não existir.

Um erro atrás do outro, dos menores aos inexplicáveis, nada progride, tudo agarra ou volta. Não estudei como planejado e prometido a ninguém menos que a mim mesma.  Não escrevi no blog, não li jazz, não li jornal, não vi filme, vi show errado, reticências muitas, todas erradas e tortas.

Comecei o dia estreando nesta tragédia, feita comédia da vida privada, enviando email de foro íntimo para destinatário incorreto. Sem querer e sem perceber. E só me dei conta ao receber resposta desentendida do tema tratado.

No andamento da tarde, como não conseguia, de maneira nenhuma, estudar, pensei em por em prática algo que está nos planos desde que me livrei dos conturbados finais de semana monográficos: me colocar em dia com o roteiro de exposições de arte de São Paulo, tão absolutamente fora dos trilhos, a monografia me deixou.

Havia pensado em uma exposição da obra do artista plástico, arquiteto-paisagista Burle Marx na Pinacoteca, mas repensei para as bandas de Marina Abramovic, em meu SESC favorito. Como tinha show no SESC à noite, eu deixaria Burle Marx para amanhã e já ficava por lá lendo meu livro de jazz, espera feita prazer e ponto.

E fui. Chegando lá, quase trombei com a própria no átrio do principal espaço de convivência da Lina. Não me dei conta. Pensei: “ó... esta deve ser uma pessoa conhecida, cercada de pessoas com câmera fotográfica ou com bloco de notas... deixa ver quem é.” Fui chegando por trás do bando e vi que falavam inglês. Um inglês de estrangeiro, entendível, portanto.  Me aproximei e vi a sérvia Abramovic, em carne e osso, ali na minha frente.

Pensei imediatamente que aquele deveria ser um dia especial na exposição que foi aberta, segundo dizem os jornais, no dia anterior. Com a presença da artista para ilustrar um histórico muito bem recheado de performances. E era um dia especial. E era só para convidados. E não pude entrar.

Com a cara na porta, pensei que não dava tempo de procurar outra expo antes do show. Que me sentaria ali, pelas poltronas do confortável espaço de convivência e, com uma cervejinha e um lanche,  seguiria os ensinamentos de minha mãe. Faria uso de meu kit anti-stress, sempre comigo, em farta bagagem permanente. Kit anti-stress, traduza-se, compõe-se de coisas para te entreter em qualquer espera imprevista. Leria jornal do dia, leria Hobsbawn e ouviria música, jazz, ilustrando palavras e histórias de rica literatura.

Mas um forte aperto que tinha no coração e nas ideias, por razões existenciais, não me deixou concentrar ou entender palavra nenhuma. Ia lendo e as palavras não construíam história em minha (falta de) lógica. Nem Hobsbawn, nem os jornais, nada fazia sentido.  

Permaneci, assim, só na música. Sem a companhia de palavras que me trouxessem outras vidas e outras histórias, me desvinculando de minhas sem-razões para tudo (e nada). Fiquei com a música, com a cervejinha e com o lanche Agreste da Pompéia, que gosto tanto.

Só me levantei na hora do show para descobrir que o show, Acabou Chorare, com Moraes Moreira e seu filho, Davi Moraes, do qual contei tanta vantagem a semana inteira, não era ali. Era no SESC Pinheiros a uma distância de algo como hora.  Estava no SESC errado, a uma distância inalcançável com os tempos do show.

Acho que a exposição da Marina Abramovic, tão presente em meus projetos de roteiro cultural, junto à notícia do tombamento do SESC Pompéia, como patrimônio cultural nacional esta semana, me levaram para lá. Fui e não me encontrei, em nada.

Mas virginiana extrema, não podia admitir voltar para casa, um sábado, importante frisar, sem nada. Não havia estudado, não havia lido, não consegui ver exposição e perdi o show. Fui, assim, até a bilheteria para saber dos shows que aconteceriam ali, aquela noite e se ainda havia ingressos. Pois, era a Mostra Prata da Casa 2014, ou seja, um micro festival anual dos melhores nomes que sem apresentam nos shows de mesmo nome, ali, às terças. Só nomes novos despontando Brasil afora, como que uma pré aposta do SESC. Como muitos dos nomes que compõem a cena musical de São Paulo e do Brasil hoje, vi surgindo ali, no Prata da Casa, como já fui frequentadora de carteirinha, resolvi ver. E como são, geralmente, bandas ou nomes desconhecidos, ainda havia ingressos.

E fui... de olhos fechados. Porque se abrisse e lesse o programa da Mostra Prata da Casa 2014, em minhas mãos, não iria. O show eram dois grupos; Mexidinho e Rapadura (!). Sei que parece que entrei para os trilhos de fazer piada comigo mesma, mas é sério. E este foi o saldo de um dia, assim, todo azedo: ‘Mexidinho’ com ‘Rapadura’.

Mexidinho é do Recife, algo voltado para o samba, com uma sonoridade algo blue. Dá para imaginar? Sei que não. Mas foi ‘gostosim’... Rapadura Xique Chico é o codinome de Francisco Igor Almeida dos Santos que toca alguma mescla de repente, embolada e Luís Gonzaga com rap. É, enfim, uma puta embolada? Sentiu? Eu senti e por isto fui embora ao princípio do show. O Mexidinho era algo gostoso e embalou a escrita destas palavras noite afora, sentadinha nas mesas do espaço de convivência, ouvindo o show. Mas rapadura não é mole não. Esta, nem doce era.

Chega, hoje só quero amanhã.

2 comentários:

  1. Vixe. Tem dias que sao assim mesmo... que o domingao pelo menos esteja sendo melhor!! Bjo, orozco

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  2. Amiga,

    Sei que foi trágico, mas a parte do Rapadura Xique Chico foi hilária.
    Ainda bem que salvamos a sexta na babilônica Augusta :)
    Beijos.
    Cris Novaes.

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