O dia de hoje foi um daqueles categorizados como iniciados com os dois pés esquerdos. Foi, na verdade, sem lado errado (ou certo), mas um dia que deveria ser desclassificado no calendário. Dia para não existir.
Um erro atrás do outro, dos menores aos inexplicáveis, nada
progride, tudo agarra ou volta. Não estudei como planejado e prometido a
ninguém menos que a mim mesma. Não
escrevi no blog, não li jazz, não li jornal, não vi filme, vi show errado, reticências
muitas, todas erradas e tortas.
Comecei o dia estreando nesta tragédia, feita comédia da
vida privada, enviando email de foro íntimo para destinatário incorreto. Sem
querer e sem perceber. E só me dei conta ao receber resposta desentendida do
tema tratado.
No andamento da tarde, como não conseguia, de maneira
nenhuma, estudar, pensei em por em prática algo que está nos planos desde que
me livrei dos conturbados finais de semana monográficos: me colocar em dia com
o roteiro de exposições de arte de São Paulo, tão absolutamente fora dos
trilhos, a monografia me deixou.
Havia pensado em uma exposição da obra do artista plástico,
arquiteto-paisagista Burle Marx na Pinacoteca, mas repensei para as bandas de
Marina Abramovic, em meu SESC favorito. Como tinha show no SESC à noite, eu
deixaria Burle Marx para amanhã e já ficava por lá lendo meu livro de jazz,
espera feita prazer e ponto.
E fui. Chegando lá, quase trombei com a própria no átrio do
principal espaço de convivência da Lina. Não me dei conta. Pensei: “ó... esta
deve ser uma pessoa conhecida, cercada de pessoas com câmera fotográfica ou com
bloco de notas... deixa ver quem é.” Fui chegando por trás do bando e vi que
falavam inglês. Um inglês de estrangeiro, entendível, portanto. Me aproximei e vi a sérvia Abramovic, em carne
e osso, ali na minha frente.
Pensei imediatamente que aquele deveria ser um dia especial
na exposição que foi aberta, segundo dizem os jornais, no dia anterior. Com a
presença da artista para ilustrar um histórico muito bem recheado de
performances. E era um dia especial. E era só para convidados. E não pude
entrar.
Com a cara na porta, pensei que não dava tempo de procurar
outra expo antes do show. Que me sentaria ali, pelas poltronas do confortável
espaço de convivência e, com uma cervejinha e um lanche, seguiria os ensinamentos de minha mãe. Faria
uso de meu kit anti-stress, sempre comigo, em farta bagagem permanente. Kit
anti-stress, traduza-se, compõe-se de coisas para te entreter em qualquer
espera imprevista. Leria jornal do dia, leria Hobsbawn e ouviria música, jazz,
ilustrando palavras e histórias de rica literatura.
Mas um forte aperto que tinha no coração e nas ideias, por
razões existenciais, não me deixou concentrar ou entender palavra nenhuma. Ia
lendo e as palavras não construíam história em minha (falta de) lógica. Nem
Hobsbawn, nem os jornais, nada fazia sentido.
Permaneci, assim, só na música. Sem a companhia de palavras
que me trouxessem outras vidas e outras histórias, me desvinculando de minhas
sem-razões para tudo (e nada). Fiquei com a música, com a cervejinha e com o lanche
Agreste da Pompéia, que gosto tanto.
Só me levantei na hora do show para descobrir que o show,
Acabou Chorare, com Moraes Moreira e seu filho, Davi Moraes, do qual contei
tanta vantagem a semana inteira, não era ali. Era no SESC Pinheiros a uma
distância de algo como hora. Estava no
SESC errado, a uma distância inalcançável com os tempos do show.
Acho que a exposição da Marina Abramovic, tão presente em
meus projetos de roteiro cultural, junto à notícia do tombamento do SESC
Pompéia, como patrimônio cultural nacional esta semana, me levaram para lá. Fui
e não me encontrei, em nada.
Mas virginiana extrema, não podia admitir voltar para casa,
um sábado, importante frisar, sem nada. Não havia estudado, não havia lido, não
consegui ver exposição e perdi o show. Fui, assim, até a bilheteria para saber
dos shows que aconteceriam ali, aquela noite e se ainda havia ingressos. Pois, era
a Mostra Prata da Casa 2014, ou seja, um micro festival anual dos melhores
nomes que sem apresentam nos shows de mesmo nome, ali, às terças. Só nomes
novos despontando Brasil afora, como que uma pré aposta do SESC. Como muitos
dos nomes que compõem a cena musical de São Paulo e do Brasil hoje, vi surgindo
ali, no Prata da Casa, como já fui frequentadora de carteirinha, resolvi ver. E
como são, geralmente, bandas ou nomes desconhecidos, ainda havia ingressos.
E fui... de olhos fechados. Porque se abrisse e lesse o
programa da Mostra Prata da Casa 2014, em minhas mãos, não iria. O show eram
dois grupos; Mexidinho e Rapadura (!). Sei que parece que entrei para os
trilhos de fazer piada comigo mesma, mas é sério. E este foi o saldo de um dia,
assim, todo azedo: ‘Mexidinho’ com ‘Rapadura’.
Mexidinho é do Recife, algo voltado para o samba, com uma
sonoridade algo blue. Dá para imaginar? Sei que não. Mas foi ‘gostosim’... Rapadura Xique Chico é o codinome de Francisco Igor Almeida
dos Santos que toca alguma mescla de repente, embolada e Luís Gonzaga com rap.
É, enfim, uma puta embolada? Sentiu? Eu senti e por isto fui embora ao
princípio do show. O Mexidinho era algo gostoso e embalou a escrita destas
palavras noite afora, sentadinha nas mesas do espaço de convivência, ouvindo o
show. Mas rapadura não é mole não. Esta, nem doce era.
Vixe. Tem dias que sao assim mesmo... que o domingao pelo menos esteja sendo melhor!! Bjo, orozco
ResponderExcluirAmiga,
ResponderExcluirSei que foi trágico, mas a parte do Rapadura Xique Chico foi hilária.
Ainda bem que salvamos a sexta na babilônica Augusta :)
Beijos.
Cris Novaes.