“Eu sou assim, quem quiser gostar de mim, eu sou assim...”
Virginiana e poliana, duas supostas predestinações, em que
não acredito, mas que me definem. Não acredito, aliás, em predestinação
nenhuma. “Somos quem podemos ser”, quem
queremos, buscamos, quem construímos.
E comigo; a vida, os anos e os fatos e lições
foram vindo, fui me fazendo assim e fui gostando. E quanto mais cética
me torno, mais me acredito, me vejo e me aceito dentro destas duas quase
esotéricas definições.
E hoje, sobretudo, acredito-nas particularmente importantes
para meu permanente e particular processo de recuperação. Dos muitos revezes que
se interpuseram em meu caminho. E esta minha superação, em meu entendimento e
leitura (e prática) não é feita de situações ou atitudes heroicas. É feita do
cotidiano, do aprendizado diário. De rotina.
Ser poliana, por exemplo, apesar de sugerir uma boba alegre,
implica na construção de nova gramática para a vida. Significa também
desenvolver um outro olhar. Qualquer coisa dita (ou feita, ou sabida) ruim que
te aconteça, você consegue sair dali de dentro e olhar por outros ângulos:
‘peraí , se você olhar assim, pensar assim, vai ver que'....
É que na roleta da vida, bom e ruim seguem conjugados um com
o outro, formando o inteiro, as duas faces da mesma moeda, e você sempre poderá
olhar pelo outro lado. É uma capacidade pessoal e seguramente passível de
desenvolvimento. É um aprendizado e demanda prática até tornar-se natural. E
torna-se. Hoje, é parte de minha identidade. “Se não fossem minhas malas cheias
de memória”, se não fossem os aprendizados, o olhar e o sorriso, não seria eu.
E não acabou. Para ser eu, tem mais (!!!). Tem ainda tudo o que
pode significar ser virginiana, mais, virginiana-poliana. Metódica, disciplinada... e bem humorada.
Fazendo piada de minhas regras e de mim.
E a dedicação é tão extrema que me dou boas razões para ser
assim. E me convenço, fortemente! Tenho uma teoria pessoal que diz que o melhor
de tanta regra é a infração. Sem culpa,
sem pecado, sem vítimas. As regras são minhas e, portanto, as consequências da
infração também o são. Assim posso me
permitir, sempre que quiser. Mas não quero sempre porque a graça da infração
está na exceção e não na regra. Tenho, portanto, regras para furar minhas
regras. Obedecem a um ‘quando’, ‘com que frequência’ e ‘como’ predeterminados e
acordados com minha consciência.
E ser assim, tanta regra, tanto objetivo,
tanta disciplina foi também fundamental em minha ‘reconstrução’. No terceiro
hospital em que fiquei, já de posse de alguma consciência, alguma razão, fiz, a
um dos médicos que me acompanhava, algumas perguntas sobre meu processo de
recuperação, reabilitação, a que poderia ou deveria me dedicar e etc. E ele me
respondeu de maneira tão reticente que poderia ter me estancado em minhas
inacabáveis buscas e superação. Ele me respondeu que poderia ser
tudo ou nada. Que traumatismos cranianos graves feito o meu, faziam da
recuperação uma incógnita. Que no meu caso, especificamente, já era um grande avanço estar ali, articulando passos e pensamentos. Uma
reabilitação podia ser tudo ou nada.
Decidi que seria tudo. Se a
recuperação não viesse inteira com o tempo, sozinha, por trabalhos contínuos de meu organismo,
refazendo tudo o que perdi; eu a traria e reconstruiria peça por peça.
Virginianamente, com todas as regras, métodos e disciplina e também polianamente, porque o
humor nunca me faltaria.
Eu nunca deixaria (como nunca
deixei) que uma pretensa sequela se impusesse, sem antes brigar muito; da falta
de equilíbrio, à coordenção, passando pela fala e pelas funções cognitivas perdidas, todos tiveram, a seu
tempo, minha dedicação. E eu nunca
usaria (como não uso) os fatos deste acidente para me vitimizar. "Eu sou assim, quem quiser gostar de mim eu sou assim". Eu, antes,
fazia (e ainda faço) piada de mim!
“Esta é minha explicação, meu
verso melhor ou único, meu tudo enchendo meu nada.”!
E se não fosse TUDO ISSO, não seria Poliana!! Amei o texto e estava com saudades daqui! :) #sucrilhos
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