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domingo, 12 de julho de 2015

não seria eu


“Eu sou assim, quem quiser gostar de mim, eu sou assim...”

Virginiana e poliana, duas supostas predestinações, em que não acredito, mas que me definem. Não acredito, aliás, em predestinação nenhuma.  “Somos quem podemos ser”, quem queremos, buscamos, quem construímos.

E comigo; a vida, os anos e os fatos e  lições  foram vindo, fui me fazendo assim e fui gostando. E quanto mais cética me torno, mais me acredito, me vejo e me aceito dentro destas duas quase esotéricas definições.

E hoje, sobretudo, acredito-nas particularmente importantes para meu permanente e particular processo de recuperação. Dos muitos revezes que se interpuseram em meu caminho. E esta minha superação, em meu entendimento e leitura (e prática) não é feita de situações ou atitudes heroicas. É feita do cotidiano, do aprendizado diário. De rotina. 

Ser poliana, por exemplo, apesar de sugerir uma boba alegre, implica na construção de nova gramática para a vida. Significa também desenvolver um outro olhar. Qualquer coisa dita (ou feita, ou sabida) ruim que te aconteça, você consegue sair dali de dentro e olhar por outros ângulos: ‘peraí , se você olhar assim, pensar assim, vai ver que'....

É que na roleta da vida, bom e ruim seguem conjugados um com o outro, formando o inteiro, as duas faces da mesma moeda, e você sempre poderá olhar pelo outro lado. É uma capacidade pessoal e seguramente passível de desenvolvimento. É um aprendizado e demanda prática até tornar-se natural. E torna-se. Hoje, é parte de minha identidade. “Se não fossem minhas malas cheias de memória”, se não fossem os aprendizados, o olhar e o sorriso, não seria eu.

E não acabou. Para ser eu, tem mais (!!!). Tem ainda tudo o que pode significar ser virginiana, mais, virginiana-poliana.  Metódica, disciplinada... e bem humorada. Fazendo piada de minhas regras e de mim.

E a dedicação é tão extrema que me dou boas razões para ser assim. E me convenço, fortemente! Tenho uma teoria pessoal que diz que o melhor de tanta regra é a infração.  Sem culpa, sem pecado, sem vítimas. As regras são minhas e, portanto, as consequências da infração também o são.  Assim posso me permitir, sempre que quiser. Mas não quero sempre porque a graça da infração está na exceção e não na regra. Tenho, portanto, regras para furar minhas regras. Obedecem a um ‘quando’, ‘com que frequência’ e ‘como’ predeterminados e acordados com minha consciência.

E ser assim, tanta regra, tanto objetivo, tanta disciplina foi também fundamental em minha ‘reconstrução’. No terceiro hospital em que fiquei, já de posse de alguma consciência, alguma razão, fiz, a um dos médicos que me acompanhava, algumas perguntas sobre meu processo de recuperação, reabilitação, a que poderia ou deveria me dedicar e etc. E ele me respondeu de maneira tão reticente que poderia ter me estancado em minhas inacabáveis buscas e superação. Ele me respondeu que poderia ser tudo ou nada. Que traumatismos cranianos graves feito o meu, faziam da recuperação uma incógnita. Que no meu caso, especificamente, já era um grande avanço estar ali, articulando passos e pensamentos. Uma reabilitação podia ser tudo ou nada.

Decidi que seria tudo. Se a recuperação não viesse inteira com o tempo, sozinha, por  trabalhos contínuos de meu organismo, refazendo tudo o que perdi; eu a traria e reconstruiria peça por peça. Virginianamente, com todas as regras, métodos e disciplina e também polianamente, porque o humor nunca me faltaria.

Eu nunca deixaria (como nunca deixei) que uma pretensa sequela se impusesse, sem antes brigar muito; da falta de equilíbrio, à coordenção, passando pela fala e pelas funções cognitivas perdidas, todos tiveram, a seu tempo, minha dedicação.  E eu nunca usaria (como não uso) os fatos deste acidente para me vitimizar. "Eu sou assim, quem quiser gostar de mim eu sou assim". Eu, antes, fazia (e ainda faço) piada de mim!

“Esta é minha explicação, meu verso melhor ou único, meu tudo enchendo meu nada.”!

Um comentário:

  1. E se não fosse TUDO ISSO, não seria Poliana!! Amei o texto e estava com saudades daqui! :) #sucrilhos

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