Vontade de emoção, daquelas intensas, lá dentro do peito, como sentia outrora, sempre, forte e muito! Daquelas que tem no choro o reflexo mais leve, mais trivial e recorrente. Mas acontece que eu já não sabia o que era isto. Já não me sentia assim e queria. Queria, mas não conseguia sentir. É que depois de meu célebre divisor de águas, o acidente, fiquei muitos anos sem conseguir chorar. Sem conseguir me emocionar de fato.
Racionalmente, sim; via e sabia e sentia que era algo triste, mas ponto (o final, não o de exclamação, que carrega consigo alguma emoção. Ponto, assim, choco). Nada me sufocava, me convulsionava, me tirava o chão ou sequer me provocava qualquer ‘lagriminha’ chinfrin. Nenhuma lágrima de dor, de solidariedade, de pesar, de emoção, de alegria, de amor, de nada, nunca.
Mas como todo o resto em mim, o que se foi, pelos desvairados descaminhos do acidente que me entortou os dias, estimulando e reaprendendo e refazendo, um dia volta! E é a vez das lágrimas em meus intermináveis (e felizes) processos de resgate. Elas estão de volta!! Em duas etapas, elas vêm voltando, ocasionalmente, inteiras e bastantes. Não tantas quantas eram antes, mas nem exijo isto de minha recuperação, porque, olhando racionalmente agora, de fato, eram demais.
Em minha primeira etapa desta recuperação do choro espontâneo, protagonizaram as lágrimas tristes, provocadas por situações ainda piores. Dignas de lágrimas e lamentos, digamos. Mas a poliana em mim, sempre desperta, encontrou nisto razão para celebrar. Estava, sim, triste, mas estava conseguindo algo, cuja perda lamentava muito. Estava conseguindo chorar, sentir, pois, fundo, lá dentro! E encontrava, em meio às lágrimas, razão forte para um sorriso discreto dentro do peito.
A segunda etapa foi muito melhor e digna de comemoração. Não havia ainda chorado em função da consciência da beleza desta etapa da vida que veio me atropelando e vai crescendo e fincando raiz; a gravidez. Estava, sim, adorando e celebrando desde sempre com os meus, mas a emoção... tsc, tsc, tsc... esta andava perdida pela terra do nunca. Nunca mais?
Mas aconteceu. Dia destes, estava sozinha, como me sucedem muitos dias paulistanos. Minto, estava na companhia de meu cafezinho, minha água gasosa e de devaneios múltiplos a que me conduziam um bater de coração sentido em meu baixo ventre. Só aí, neste momento, me assaltou a súbita consciência do que trago comigo. VIDA. Uma vida minha, mas outra vida. Prolongamento da minha, pedaço de mim, todo meu amor, mas um outro alguém que, com todas suas partes ligadas a mim e feitas de meu sangue, vai se tornar um outro inteiro. E aí em um flash, como um relâmpago, vieram imagens do ventre crescido, de um parto, da revelação de um pedaço meu feito vida, do primeiro choro, da primeira vez que pegar no colo o que é tão eu, tão meu, tão tudo.
E esta emoção parece que já se instalou aqui em meu peito novamente. Encontrou um lar. Fui assistir a uma peça clássica no Teatro Municipal e senti o coraçãozinho, de novo; em deveras baixa latitude para ser o meu.
E tive a consciência completa de meu estado de graça, da grandeza que vivo, a um só tempo tão animal (porque não é exclusividade humana) e tão sublime. E concluí, admitindo prazerosamente, que esta é uma das vírgulas, um dos ‘poréns’ substantivos a meu agnosticismo tão racional. Se Deus existe, ele está por aí, de mãos dadas a estes embriões do amor humano.
E de novo chorei. De alegria e de orgulho. De ser, por agora, a portadora literal da boa nova!
Racionalmente, sim; via e sabia e sentia que era algo triste, mas ponto (o final, não o de exclamação, que carrega consigo alguma emoção. Ponto, assim, choco). Nada me sufocava, me convulsionava, me tirava o chão ou sequer me provocava qualquer ‘lagriminha’ chinfrin. Nenhuma lágrima de dor, de solidariedade, de pesar, de emoção, de alegria, de amor, de nada, nunca.
Mas como todo o resto em mim, o que se foi, pelos desvairados descaminhos do acidente que me entortou os dias, estimulando e reaprendendo e refazendo, um dia volta! E é a vez das lágrimas em meus intermináveis (e felizes) processos de resgate. Elas estão de volta!! Em duas etapas, elas vêm voltando, ocasionalmente, inteiras e bastantes. Não tantas quantas eram antes, mas nem exijo isto de minha recuperação, porque, olhando racionalmente agora, de fato, eram demais.
Em minha primeira etapa desta recuperação do choro espontâneo, protagonizaram as lágrimas tristes, provocadas por situações ainda piores. Dignas de lágrimas e lamentos, digamos. Mas a poliana em mim, sempre desperta, encontrou nisto razão para celebrar. Estava, sim, triste, mas estava conseguindo algo, cuja perda lamentava muito. Estava conseguindo chorar, sentir, pois, fundo, lá dentro! E encontrava, em meio às lágrimas, razão forte para um sorriso discreto dentro do peito.
A segunda etapa foi muito melhor e digna de comemoração. Não havia ainda chorado em função da consciência da beleza desta etapa da vida que veio me atropelando e vai crescendo e fincando raiz; a gravidez. Estava, sim, adorando e celebrando desde sempre com os meus, mas a emoção... tsc, tsc, tsc... esta andava perdida pela terra do nunca. Nunca mais?
Mas aconteceu. Dia destes, estava sozinha, como me sucedem muitos dias paulistanos. Minto, estava na companhia de meu cafezinho, minha água gasosa e de devaneios múltiplos a que me conduziam um bater de coração sentido em meu baixo ventre. Só aí, neste momento, me assaltou a súbita consciência do que trago comigo. VIDA. Uma vida minha, mas outra vida. Prolongamento da minha, pedaço de mim, todo meu amor, mas um outro alguém que, com todas suas partes ligadas a mim e feitas de meu sangue, vai se tornar um outro inteiro. E aí em um flash, como um relâmpago, vieram imagens do ventre crescido, de um parto, da revelação de um pedaço meu feito vida, do primeiro choro, da primeira vez que pegar no colo o que é tão eu, tão meu, tão tudo.
E esta emoção parece que já se instalou aqui em meu peito novamente. Encontrou um lar. Fui assistir a uma peça clássica no Teatro Municipal e senti o coraçãozinho, de novo; em deveras baixa latitude para ser o meu.
E tive a consciência completa de meu estado de graça, da grandeza que vivo, a um só tempo tão animal (porque não é exclusividade humana) e tão sublime. E concluí, admitindo prazerosamente, que esta é uma das vírgulas, um dos ‘poréns’ substantivos a meu agnosticismo tão racional. Se Deus existe, ele está por aí, de mãos dadas a estes embriões do amor humano.
E de novo chorei. De alegria e de orgulho. De ser, por agora, a portadora literal da boa nova!
Que lindo Doce Poli!
ResponderExcluirEste estado é mesmo sublime. Breve você saberá o que é sentir o coração batendo fora do peito.
Um amor tão grande, uma sensação tão inexplicável...
As lágrimas brotarão, pode ter certeza. Mães são como uma fábrica de lágrimas :)
Esta emoção é das melhores coisas da vida.
Beijos.
Cris Novaes, mãe da Lua.
Que emoção! Que texto tão lindo e tão sensível! Parabéns Poliana pela vida nova chegando com tanta poesia. Bjs Thea Lage
ResponderExcluiraplausos pela beleza do texto; só quem passou por esta graça pode saber a verdade das suas palavras - poucas coisas na vida se comparam à geração de uma nova vida! beijos pra vc, muita saúde pro bebê !!!
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