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domingo, 23 de agosto de 2015

instinto nascente, amor crescente


À medida que  sinto e vejo crescendo meu ventre, à medida que tenho contato com evidências desta vida que segue se desenvolvendo em mim, sinto, no detalhe, o nascer e o crescer do instinto materno.

A sabedoria popular já proclama que quando nasce um bebê, nasce uma mãe. E aí não se encerra simplesmente o caráter biológico, já que nascendo uma criança, há necessariamente uma mulher, uma mãe que a faz real, possível e viva, enfim. Aí, tenho sentido, está, especialmente, o caráter afetivo. O sentimento que segue se construindo e crescendo por toda a gestação. O instinto materno. A energia maior que conecta toda mãe ao gerado e criado por ela, física, psicológica e emocionalmente.

Tenho sentido no cuidado cotidiano, no prazer e no esmero em ‘nos’ fazer bem em cada decisão e atitude, na vontade de saber mais para buscar mais. O amor, o cuidado, a proteção vão tomando seu espaço no coração e não nos deixam mais agir por nós, simplesmente.

Tive, esta semana, uma prova forte de que eu não sou mais só por mim. Não ajo em meu  nome, simplesmente. E não é consciência, é instinto. Não é razão, é emoção, pura e forte. Sempre fui sem medidas e sem restrições no terreno cultural. Desbravando qualquer tipo de ‘relevo’, por mais acidentado ou conturbado que possa parecer o caminho, me faço chegar lá e me faço voltar, d’alguma forma, não necessariamente confortável, para conseguir  ver ou assistir ao que quer que tenha avaliado bem e definido necessário ao meu repertório de referências.

Mas descobri que algo ou alguém além de mim anda me guiando e me conduzindo o comportamento, junto do pensamento.

Evidência 1: show do Ney Matogrosso no HSBC Brasil, em lugar deveras ermo em dias não úteis. De dentro daquele espetáculo múltiplo, na música, na performance, nos trajes, na dramatização, na iluminação, em tudo, vigiava o relógio para sair antes do show terminar, 15 minutos antes, 11:15 da noite, para que não fosse difícil que um taxista me levasse até a estação de metrô mais próxima.  Uma corrida deveras curta, frente à forte demanda que tal evento representa. Uma necessidade frente ao forte receio gerado pelo isolamento do lugar.  

Evidência 2: apresentação do Grupo Corpo no teatro Alfa, um lugar ainda mais ermo que o primeiro. Aqui, a decisão foi mais radical em função do isolamento mais evidente do local. Pesquisei bem, é fato. Mas decidi por não ir, pelo afastamento, por ser domingo e ainda mais afastado, portanto, em uma região demograficamente institucional. Habitantes, só aqueles  dos dias úteis. Aos finais de semana, passeamos entre muros, portas e fachadas fechadas  e trânsito zero.  E eu (ainda custo a acreditar) não fui à apresentação do grupo Corpo, planejada e com ingresso adquirido, há semanas. Não fui e não iria. Assim não. Diante da insegurança gerada, perdi o prazer da arte ali performada.

Pois...  diante destas evidências e da dor nenhuma por estas significativas perdas culturais comecei a me sentir e me saber outra. Eu sou é eu mesma, mas agora que sou mãe, sou outra. Poli são, sim, várias, mas a mãe que ora cresce vai tomando espaço e tornando suas razões preponderantes, entre muitas. E não me arrependo e não fico aventando possibilidades. Não fui porque não podia. Ponto. E meu coração, pulsando junto a meu ventre, me segreda que estou certa.

4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Voce e demais menina !!! Deve escrever um livro.Quantas coizas lindas voce escreve .
    Tenho prazer de ler tudo que voce posta !!! Abraço carinhozo .
    Aparecida Gervasio .

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  3. Nao foi Mariane que escreveu !!! Bate errado .

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  4. Nao foi Mariane que escreveu !!! Bate errado .

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