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sábado, 24 de fevereiro de 2018

vamos brincar diferente?


Vi uma frase no Instagram de uma minha interseção que me alimentou um turbilhão. “Arte como terapia”. Me ‘moveu’ e mexeu comigo de uma maneira forte porque é assim que encaro. É um pouco mais forte, na verdade, arte como alimento do espírito e como mola propulsora de querências e vontades, o que, de certa forma, é terapêutico, não é assim? Um rico escape cotidiano para os contratempos e dores da vida, humanos que somos.
E pensando na arte enquanto algo abraçado e vivido cotidianamente, me lembrei de uma feira/exposição a que fui na semana passada. Falo do File. Parece piada a sonoridade desta frase aí atrás, mas é coincidência, e só. Então, como eu ia dizendo, me refiro (melhorou?) ao FILE, Festival Internacional de Linguagem Eletrônica.

A interatividade como linha mestra!

Já fui a várias edições deste festival, em BH, quando ali morava. Enquanto frequentadora assídua de festivais de artes, feiras e afins, não me imaginava ficando de fora. Hoje, confesso que não me convencia muito. Achava pretensioso. Não entendia as fronteiras da proposta e ficava achando que aquilo se propunha a arte. Bits, bytes, fios e botões  querendo posar de etéreos, abstratos, conotativos, sei lá! Linguagem e estética puramente eletrônicos, se pretendendo arte contemporânea ou algo assim.
Uma imagem plástica futurista (criada por mim, confesso) me dava preguiça. A coisa eletrônica, nem
A arte de cada um!
muito disfarçadinha, alcançava, para mim, o apuro estético, o valor etéreo ou o questionamento do status quo que seriam, segundo preconceitos meus, definidores da arte. A mineira em mim franzia as sobrancelhas e resmungava – han! Mas no ano seguinte estava eu lá de novo, com cara de imersa naquele universo e posando de moderna, contemporânea, digital.
Este ano, de passagem por BH, o bendito estava em cartaz no CCBB.  Tenho que confessar que, assistindo às instalações com a questão do formato e da linguagem em mente, fui definitivamente fisgada.Uma linguagem e uma estética    embebidas daquele universo, nos plantando questionamentos de como caminhará a arte neste admirável mundo digital que nos vai cercando e condicionando projetos e processos. E o tema era bem isto: ‘Arte eletrônica na era disruptiva’.  Uma plástica do futuro, mas não robótica, arquetípica. Linguagem e plástica eletrônicas. Formas e cores, quebrando paradigmas na proposta, forma e significado.

Todas as conexões do pensamento materializados!
Sinestésicas e interativas, cheias de som e de fúria, além de luz e cor.  As instalações misturavam 
cores, desenhos, formas, com sons e muita interatividade.

Uma instalação, particularmente, me fisgou e segurou. Vídeos musicados, no que entendo como videoclipes, todos orbitando as batidas eletrônicas, do mundo INTEIRO em meio a imagens muito dentro do universo da arte contemporânea. Uma ilha de quatro faces com telas em todas, exibindo videoclipes e com fones para os espectadores ouvirem as músicas que regiam tais imagens (consegui explicar? no images!). A música ímã, hipnótica. Não queria sair dali!

Confesso que nunca me afinei de fato com as batidas puramente eletrônicas, analógica que sou! Fui apresentada a muita coisa boa em tempos idos, que me mostravam que a seara eletrônica vai além da coisa tão somente mecânica que sugere (aos leigos). Bem, mas não ficou... Não fui além sozinha, não desenvolvi um olhar, uma visão, deixei passar. E passou.

Mas ali, no FILE, em BH, 2018, voltou. E voltou forte, me inundando, transbordando. Tive ganas de compartilhar, dividir, experimentar e dançar. Vontade de falar que, sim, eu estava, pela primeira vez, falando aquela língua. A instalação com músicas e videoclipes com sonoridade algo eletrônica do mundo TODINHO, me surpreendeu pela qualidade e sofisticação das batidas e pelo ritmo! Que delícia!

E foi exatamente assim que entendi a diferença da minha recepção para tudo tanto com relação às outras vezes. Era a língua, a linguagem, uma abordagem que eu,enfim, compreendia. A maneira que aquele universo se comunica e vai se comunicar conosco. Os questionamentos que ora se impõem. É claro que temos alguma resposta (mas, em permanente evolução) para muito do que vivemos. Aquela exposição plenamente interativa é prova disto. Me arrependi de não ter levado o Lourenço.

cada um monta sua obra!
Música com os pés!
 Ali podia tudo que ele sempre quer fazer nas visitas a exposições de arte a que vai comigo. Podia tocar, pegar, entrar, ouvir, dançar, correr, sentir, cheirar, inventar. Uma pisada, uma nota musical; mais um passo, uma cor, seguindo andando, uma profusão de luzes! Em uma instalação, pequenos compunham músicas com as pisadas; os passos no caminho que se faziam música e eles adoravam!

Uma dica forte que já temos hoje é que a interação fixará residência em primeiro plano.  A comunicação efetiva da arte com o seu público. As cores, formas, texturas, sons e significados em diálogo, produzindo obras individuais e particulares, de acordo à impressão de cada par de olhos e cada corpo e cabeça que se entregam ao convite das obras.
O que não havia parado para pensar é que o festival trata de Linguagem Eletrônica. E aí é um universo! Tem, sim, um ângulo artístico, mas vai além disto. E é aí que mora o interesse e o interessante do projeto. Fui a esta edição do File BH, no CCBB, com este olhar e minha vida mudou!

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

inclassificável ou desclassificada?


Deixa  eu contar um troço ‘procês’. Eu andei desenvolvendo umas teorias médicas, psiquiátricas, cognitivas, sei lá o quê. Não sei encaixar ou classificar o campo de minhas descobertas . Vamos fazer assim: eu lhes conto o que, as historinhas das ocorrências, contextualizo, dou o ponto de partida, explico cada nuance, cada etapa, conto o meu veredicto final e deixo, democraticamente, nas mãos de vocês a (des)classificação da teoria!

Com base na temática dos posts da Louca nos últimos anos, imaginem de que se tratam minhas teorias? Com base nos textos que venho escrevendo vocês podem chutar duas coisas: é algo sobre o acidente, meu divisor de águas, sobre meu (interminável) processo de recuperação ou é algo cultural. Não é assim? A louca tem abertura e liberdade total de repertório, podendo ser tudo e qualquer coisa, mas seu disquinho agarrou nestas faixas, não sei porque. E quem chutou estas opções acertou porque é uma teoria 'inclassificável' ou 'desclassificada' sobre o acidente. O pós, a recuperação!

É meu interminável processo de reconstrução cognitiva. Hein? Sou eu no meu processo de me reconstruir eu mesma depois de perder a memória, a capacidade de memorizar, o raciocínio lógico, a capacidade de links e conexões, entrelaçando fatos e fotos J; enfim, sou eu tentando me reconhecer e me provar eu mesma depois de tudo tanto.

Então, chega de prosa e vamos às teorias ou me perco em divagações e devaneios como me sói fazer vezenquando (quase sempre, na verdade!).

É o seguinte. Modéstia às favas, sempre fui boa de português, gramática, literatura e outros temas linguísticos  ;-) ! Acontece que depois do acidente comecei a cometer erros pornográficos com a língua! Peraí, deixa eu explicar, antes que todos comecem a pensar que fiquei devassa na temática escolhida para meus escritos. Ando cometendo erros ortográficos absolutamente absurdos e é esta a 'pornopopéia'! E o mais inusitado e engraçado é que eu sou a primeira a reconhecer o erro assustador. Imediatamente. Escrevo errado e antes mesmo de acabar de escrever a palavra, olho para a sílaba errada e quase tenho uma síncope de estranhamento.

Sem exagero, escrevo PUTA errado, de maneira que analfabetos não escreveriam, como uma criança em processo de alfabetização, nas primeiras palavras... e tomo um susto gigante com o que ousei a colocar no papel. Deixa eu dar alguns exemplos para vocês entenderem o grau do meu analfabetismo momentâneo e o abissal susto posterior. A questão é que sou passiente(!!!) com minhas falhas. Passiente tanto no caso daquele do hospital ou do médico quanto daquele que espera augo (!!!)sem reclamar.  É... aquele augo de alguma coisa. Algo feito augo. Nesta autura (!!!) do campeonato vocês já devem estar se perguntando se eu al menos (!!!) concluí a primeira série do primeiro grau ou tomei bomba.  

E por aí vai... Deu pra sacar o nível? Antes de acabar de escrever a palavra, levo um susto forte com a merda que estou fazendo, ou escrevendo, com o perdão da péssima palavra. E fico injuriada... de onde tirei isto? Se sei, no segundo após a escrita, que está errado, porque escrevo? Bom... é aí que vem a teoria. Isto tudo, até agora, foi só contextualização.  Vamos ver aonde chegamos.

Atenção médicos, pedagogos ou psiquiatras (vai saber), meu processo de viver este lapso instantâneo do pensamento e da memória me levou a concluir que, a perda de faculdades cognitivas me faz usar do instinto em alguns momentos. Assim, pelo instinto do sentido da audição, busco um símbolo que bem represente aquele fragmento sonoro e escrevo exatamente como ouvi, sem considerar gramática ou regras.

Mas como não perdi a memória antiga e, em mim, o português e a gramática são tão antigos quanto eu, vieram comigo no nascimento (olha só o que estou falando, escrevi agora nacimento, na sentença aí atrás e logo corrigi... é recorrente... e grave!). Então... como o português e a gramática são regras que, haja acidente para me roubar, olho para a palavra e instantaneamente sei que está errada, absurda, mal colocada.

Então, minha teoria é esta: penso na palavra e o instinto auditivo me leva ao erro e a cognição feita memória, faz o reconhecimento imediato.

Me digam amigos, se acham que meu caso é para questionar um médico e um pedagogo sobre a teoria que, vivendo minhas eternas sequelas, percebi ou se é caso para um psiquiatra mesmo, sem mais. Estou doida e já é!

Me contem o que acham disto tudo? Deixem a opinião de vocês nos comentários abaixo, vai...  meu caso é para a academia considerar, pesquisar e postular ou para  um psiquiatra me colocar em meu devido lugar... conta aê... ah o campo de comentários logo aí, olha!

Ah... a outra teoria vai ficar para o próximo texto porque pelo tamanho que este vai ganhando, quase ninguém deve chegar aqui e saber de meu segundo insight  acerca de meus processos de recuperação.

Põe fé que já é!

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

inusitadamente, excelente!


Descobertas musicais frequentemente recheiam meus dias de um prazer algo profano. Porque acontece sempre em algum momento escape de obrigações cotidianas. E não consigo me furtar a uma entrega quase erótica. Erótica, no sentido sensual porque a música carrega para mim, esta característica gostosa.

Hoje, me entreguei algumas vezes, não sem alguma culpa diante de meus deveres, ao lançamento de Zélia Duncan. Inusitado. Quer dizer, inusitados, a entrega e o album. Um porque até tenho um outro álbum dela, em homenagem a Itamar Assumpção, mas zero hábito de ouvir. Dois porque o álbum nasceu de um projeto de shows com este nome e significado, portanto, INUSITADO.

E, para ela, assim soou o convite a participar deste projeto: Inusitado. O convite era (e foi) cantar Milton sem harmonia, só voz e Cello, Zélia Duncan e Jaques Morelenbaum. Já deu pra sacar que o que o projeto tinha de inusitado e ousado, tinha também de substancioso e promissor, né?

Zélia e Morelenbaum cantando Milton. Nunca fui de ouvir a Zélia porque nunca houve nada que me fisgasse, mas nunca tive nenhuma palavra contra também. Agora tenho várias a favor. Inusitado, sofisticado, ousado, qualidade.  Na entrevista em que fala do lançamento do álbum, ela diz que Milton está entre aqueles que a fizeram querer cantar, que ele estava no lugar das coisas encantadas. 

Aqui, me identifiquei absolutamente. Primeiro pelo lirismo sofisticado de suas canções, algo sublime, perto do sagrado, para mim, pelo menos. Segundo pela memória afetiva deste nome mineiro que guardo comigo. Quando, adolescente, comecei a querer ouvir coisas classificadas como ‘de qualidade’, inaugurei minha seleção de escolhas inquestionáveis com ele! Até pela unanimidade.

O inusitado, que era cantar Milton sem harmonia, foi, na verdade, um truque! Segundo Zélia Duncan, chamar o Jaques para ser parte do projeto é como se estivesse chamando uma orquestra. Com ele, ouve-se o arranjo inteiro no cello, somente!

De caráter “inusitado”, o disco reúne 14 clássicos do repertório do Milton, ‘arranjados’ com intensidade e serenidade, comuns em todo repertório do autor. O minimalismo do encontro e suas peculiaridades dão frescor ao projeto! Saboroso!