Vi uma frase no Instagram de uma
minha interseção que me alimentou um turbilhão. “Arte como terapia”. Me ‘moveu’
e mexeu comigo de uma maneira forte porque é assim que encaro. É um pouco mais
forte, na verdade, arte como alimento do espírito e como mola propulsora de
querências e vontades, o que, de certa forma, é terapêutico, não é assim? Um
rico escape cotidiano para os contratempos e dores da vida, humanos que somos.
E pensando na arte enquanto algo
abraçado e vivido cotidianamente, me lembrei de uma feira/exposição a que fui
na semana passada. Falo do File. Parece piada a sonoridade desta frase aí atrás,
mas é coincidência, e só. Então, como eu ia dizendo, me refiro (melhorou?) ao
FILE, Festival Internacional de Linguagem Eletrônica.
A interatividade como linha mestra! |
Já fui a várias edições deste
festival, em BH, quando ali morava. Enquanto frequentadora assídua de festivais
de artes, feiras e afins, não me imaginava ficando de fora. Hoje, confesso que
não me convencia muito. Achava pretensioso. Não entendia as fronteiras da
proposta e ficava achando que aquilo se propunha a arte. Bits, bytes, fios e
botões querendo posar de etéreos,
abstratos, conotativos, sei lá! Linguagem e estética puramente eletrônicos, se
pretendendo arte contemporânea ou algo assim.
Uma imagem plástica futurista
(criada por mim, confesso) me dava preguiça. A coisa eletrônica, nem
muito
disfarçadinha, alcançava, para mim, o apuro estético, o valor etéreo ou o
questionamento do status quo que seriam, segundo preconceitos meus, definidores da arte. A mineira em mim franzia as
sobrancelhas e resmungava – han! Mas no ano seguinte estava eu lá de novo, com
cara de imersa naquele universo e posando de moderna, contemporânea, digital.
A arte de cada um! |
Este ano, de passagem por BH, o bendito estava em cartaz no CCBB. Tenho que confessar que, assistindo às instalações com a questão do formato e
da linguagem em mente, fui definitivamente fisgada.Uma linguagem e uma estética embebidas
daquele universo, nos plantando questionamentos de como caminhará a arte neste
admirável mundo digital que nos vai cercando e condicionando projetos e
processos. E o tema era bem isto: ‘Arte eletrônica na era disruptiva’. Uma plástica do futuro, mas não robótica,
arquetípica. Linguagem e plástica eletrônicas. Formas e cores, quebrando
paradigmas na proposta, forma e significado.
Todas as conexões do pensamento materializados! |
Uma
instalação, particularmente, me fisgou e segurou. Vídeos musicados, no que
entendo como videoclipes, todos orbitando as batidas eletrônicas, do mundo
INTEIRO em meio a imagens muito dentro do universo da arte contemporânea. Uma
ilha de quatro faces com telas em todas, exibindo videoclipes e com fones para
os espectadores ouvirem as músicas que regiam tais imagens (consegui explicar? no images!).
A música ímã, hipnótica. Não queria sair dali!
Confesso
que nunca me afinei de fato com as batidas puramente eletrônicas, analógica que sou! Fui apresentada a muita
coisa boa em tempos idos, que me mostravam que a seara eletrônica vai além da
coisa tão somente mecânica que sugere (aos leigos). Bem, mas não ficou... Não
fui além sozinha, não desenvolvi um olhar, uma visão, deixei passar. E passou.
Mas ali,
no FILE, em BH, 2018, voltou. E voltou forte, me inundando, transbordando. Tive
ganas de compartilhar, dividir, experimentar e dançar. Vontade de falar que,
sim, eu estava, pela primeira vez, falando aquela língua. A instalação com
músicas e videoclipes com sonoridade algo eletrônica do mundo TODINHO, me
surpreendeu pela qualidade e sofisticação das batidas e pelo ritmo! Que delícia!
E foi exatamente
assim que entendi a diferença da minha recepção para tudo tanto com relação às
outras vezes. Era a língua, a linguagem, uma abordagem que eu,enfim,
compreendia. A maneira que aquele universo se comunica e vai se comunicar
conosco. Os questionamentos que ora se impõem. É claro que temos alguma resposta
(mas, em permanente evolução) para muito do que vivemos. Aquela exposição plenamente
interativa é prova disto. Me arrependi de não ter levado o Lourenço.
Ali podia
tudo que ele sempre quer fazer nas visitas a exposições de arte a que vai
comigo. Podia tocar, pegar, entrar, ouvir, dançar, correr, sentir, cheirar,
inventar. Uma pisada, uma nota musical; mais um passo, uma cor, seguindo
andando, uma profusão de luzes! Em uma instalação, pequenos compunham músicas
com as pisadas; os passos no caminho que se faziam música e eles adoravam!
Uma dica forte que já temos hoje
é que a interação fixará residência em primeiro plano. A comunicação efetiva da arte com o seu público.
As cores, formas, texturas, sons e significados em diálogo, produzindo obras
individuais e particulares, de acordo à impressão de cada par de olhos e cada
corpo e cabeça que se entregam ao convite das obras.
O que não
havia parado para pensar é que o festival trata de Linguagem Eletrônica. E aí é
um universo! Tem, sim, um ângulo artístico, mas vai além disto. E é aí que mora
o interesse e o interessante do projeto. Fui a esta edição do File BH, no CCBB,
com este olhar e minha vida mudou!
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