A ideia teve início por uma
sugestão em prosa de mesa de Reveillon, ou seja, uma sugestão que já nasceu
gabaritada, digamos assim, porque uma mesa reunindo partícipes de tal
celebração, já carrega em si credenciais honórificas, não é mesmo?! E surgindo
no meio de uma prosa boa, de culturas e viagens, ganha ainda mais honrarias.
Prosas da Terra da Garoa,
orquestras, Sala São Paulo, João Carlos Martins! Programações e apresentações,
idas e vindas. E assim, com o maestro vivo na ponta da língua, seu documentário
vem à tona e, diante de meu encantamento com seu trabalho e desconhecimento do
doc, sua pronta sugestão.
E foi entrega imediata.
Bem, imediata na vontade e intenção porque realização mesmo, foi somente uns dois meses
depois. Um adiamento atrás do outro, sequencialmente, por razões diversas e
acabei só vendo na semana passada.
E foi adesão, agora sim,
imediata. Não tanto pelo enredo, roteiro, pela trama, em si, mas pelo
protagonista e pelos contornos de uma história assim, musica, lírica e pela superação
(real) que ela representa!
Começando pelo princípio,
vemos, inicialmente, o maestro como menino prodígio do piano, uma criança genial e obsessiva, cheia
de regras e tão dedicada que emociona! Depois
jovem concertista, homem de sucesso cosmopolita... João vai adultescendo e seu
crescimento e maturação vão sendo acompanhados pela formação de um exímio
pianista, embalados por melodias e ritmos ao piano, tocados pelo menino, moço,
rapaz que, ao passo que cresce, vai sofisticando suas leituras e apresentações.
Na evolução do músico, a progressão do movimento de seus
dedos, faz uma dança tão complexa que inebria. E junto com o som produzido faz
chorar, pela complexidade e pela perfeição melódica. O malabarismo, melhor dizendo,
de seus dedos nos desenhos
dos teclados, todo a complexidade sonora produzida, tudo isto parte da mesma
sequência de frames constituem o melhor retrato da emoção mote de tudo.
Ele já é um pianista profissional em Nova York quando, um dia,
vendo pela janela de casa os
jogadores do seu time de coração, a Portuguesa de Desportos, no Central Park,
resolve bater uma bolinha e, numa queda, lesa o nervo do braço. Compromete a
mão direita.
Há então a saga da
recuperação, novos problemas, nova volta por cima, até a solução encontrada
para viver no mundo da música sem depender da agilidade dos dedos, que não mais
lhe obedecem. Maestrando – se,
ele segue o esforço insano para
sair das limitações físicas que lhe são impostas .
A certa altura, sua mulher
lhe diz que ele se comporta como um viciado e é, de certa forma, a sensação que
nos passa do lado de cá da tela... obsessões, compulsões, devaneios, surtos
musicais. Possuído... ao tocar e por tocar!
O balé das mãos, fazendo
uma coreografia independente, cada uma... Depois, uma delas somente, percorrendo toda a
kilometragem dos teclados do piano e, por fim, os braços entrando na dança e
fazendo, assim, movimentos mais eloquentes e emocionantes pela carga semântica
que carregam. O filme
inteiro emociona, pelos acordes, por sua complexidade, pela história, pela
densidade da música, pela entrega e dedicação. E ainda mais forte porque todas
as execuções em cena são gravações originais de João Carlos Martins e comovem!
Pela dedicação, entrega à música!
APLAUSOS!
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