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terça-feira, 1 de setembro de 2020

Resgates em ebulição


O processo intenso de resgates hoje, 12 anos depois de tudo  tanto, me faz perguntar sempre quantas vidas eu vivi

Algumas coisas têm uma linha do tempo muito particular.  Com idas, vindas, estagnação, retrocesso, movimento retilíneo uniforme (quem lembra das aulas de física? ;-), picos, aceleração e outros modos, para os quais eu não tenho vocabulário.

Meu processo de recuperação teve e tem (ainda, 12 anos depois de tudo!) curvas muito alongadas, mas sempre do lado positivo. O que eu vou conseguindo, como vou conseguindo, os detalhes de minha superação, que eu, virginianamente contabilizo, são muito motivadores, apesar do tempo.

Mas bota meu nome aí nesta equação. Apesar de serem 12 anos, ser poliana (a minúscula, o significado) faz absoluta diferença para nesta equação só constarem parcelas (termo de uma soma) ou algumas vezes até multiplicadores, mas nunca subtraendos ou divisores.

O que venho lhes contar aqui é isto. Hoje (mas hoje, presente contínuo) experimento uma etapa multiplicadora, exponencial talvez, não sei dimensionar. E virginiana conteudista nas horas uteis e inúteis já tenho teorias orquestradas para explicar esta avalanche de significados que me invade... e entorpece, muitas vezes.

A primeira e certeira (porque não há dúvidas, neste campo) é a leitura. Há uns 4 ou 5 meses, voltei a ler livros, com fluência. 12 ANOS DEPOIS! Sim, eu já li alguns neste tempo todo, mas sem cadência e sempre anotando o que ia lendo, em uma espécie de resumo cola, para a próxima vez que pegasse no livro, no dia seguinte, saber em que universo eu estava passeando.

Lia 1 ou 2 livros por ano, em média, porque me era um exercício desgastante. Fora isto, vivia de jornal, links, notícias, às vezes contos. Assim, voltei a ler, no cotidiano, há uns 4 meses e já estou no 4º livro. E pirando. Minhas conexões e lembranças estão mais ágeis e eu não tomo notas em resumos ou paro na página 57 perguntando quem são estes, porque eles estão agindo assim, porque aconteceu aquilo. Sim, às vezes me perco, mas conectando sinapse a sinapse, alcanço o fio da meada. É um puta prazer reconquistado 12 anos depois de tudo, então, tem um valor muito pleno.

A segunda teoria é coisa minha. Com o traumatismo em grau grave (!) perdi a capacidade de me emocionar com qualquer coisa, como sempre fui EU (mesma!). No início, não me emocionava com nada, cinema, literatura, realidade, arte. Constatava, racionalmente, que, sim, aquilo era emocionante. E ponto. Nem uma lágrima, nem um lamento ou suspiro.

Há uns três anos, voltei a chorar. Feliz da vida, com esta resgate, às vezes forçava a barra. Mas não era fácil. Chorava em algumas ocasiões especiais. Meu algoritmo aqui ficou super seletivo e eu não me identificava ou enquadrava em nada.  Pouca gente, alguns fatos particulares, raríssimos pedaços de filmes ou livros (talvez porque não lia!).  Mas já estava aceitando este fato, sem drama (até porque não conseguiria chorar, não por esta razão!).

Há alguns poucos meses voltei a chorar com tudo, para tudo. Cinema, literatura, música, beleza, pessoas, notícia, ações, reações, realidade, lembranças (!!! aqui é celebração dupla, pela memória, em si e pelo choro com ela!) palavras, descobertas, meu filho.

E a minha teoria é que a emoção tem papel forte na cognição. Penso que há fatos que vou lembrar para sempre por causa da emoção neles embutida. Mas como eu estava sem emoção, não lembrava porque não sentia.

Sabe a tão falada hoje, memória afetiva? Pois, a minha estava desligada e agora é um torpor muito lindo e intenso. Lembrando coisas tão significativas que ficaram em off por 12 anos. Está tudo em meu estômago, flores revolvendo, tão visceralmente que é impossível descrever. Tudo tanto, suas músicas e palavras. É tanto resgate de uma vez que respirar fundo é meu modus natural.

Algumas coisas, quero trazer de volta ao meu presente, algumas estão bem na configuração de lembranças e outras ainda, quero fazer futuro.

Trago outras vidas comigo e mais que nunca vou cumprindo meu epíteto que Poli são várias!

5 comentários:

  1. Putz...fui transportada pelo espaço tempo com seu texto, Poli. Me despertou, me remexeu, me aprofundou de uma forma emocionante. Gratidão por tê-lo escrito e compartilhado comigo, com todos nós.

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    1. que com te ler e te saber, Aline! Gostoso descobrir afinidades feito a nossa, vida afora!

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  2. Gustavo Pintosetembro 03, 2020

    Poli... que emoção ler este depoimento e poder acompanhar o processo. Te adoro e te admiro demais, sabe disso! Um beijo do tamanho da sua força!

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    1. É via de mão dupla, vc sabe, né, Gustavo? Todo amor que vem, volta na mesma medida! beijo grande entornando saudades!

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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