O processo intenso de resgates hoje, 12 anos depois de tudo tanto, me faz perguntar sempre quantas vidas eu vivi
Algumas coisas têm uma linha do tempo muito
particular. Com idas, vindas,
estagnação, retrocesso, movimento retilíneo uniforme (quem lembra das aulas de
física? ;-), picos, aceleração e outros modos, para os quais eu não tenho
vocabulário.
Meu processo de recuperação teve e tem (ainda, 12 anos
depois de tudo!) curvas muito alongadas, mas sempre do lado positivo. O
que eu vou conseguindo, como vou conseguindo, os detalhes de minha superação,
que eu, virginianamente contabilizo, são muito motivadores, apesar do tempo.
Mas bota meu nome aí nesta equação. Apesar de serem 12 anos,
ser poliana (a minúscula, o significado) faz absoluta diferença para nesta
equação só constarem parcelas (termo de uma soma) ou algumas vezes até multiplicadores,
mas nunca subtraendos ou divisores.
O que venho lhes contar aqui é isto. Hoje (mas hoje, presente
contínuo) experimento uma etapa multiplicadora, exponencial talvez, não sei dimensionar.
E virginiana conteudista nas horas uteis e inúteis já tenho teorias
orquestradas para explicar esta avalanche de significados que me invade... e
entorpece, muitas vezes.
A primeira e certeira (porque não há dúvidas, neste campo) é
a leitura. Há uns 4 ou 5 meses, voltei a ler livros, com fluência. 12 ANOS
DEPOIS! Sim, eu já li alguns neste tempo todo, mas sem cadência e sempre
anotando o que ia lendo, em uma espécie de resumo cola, para a próxima vez que
pegasse no livro, no dia seguinte, saber em que universo eu estava passeando.
Lia 1 ou 2 livros por ano, em média, porque me era um exercício
desgastante. Fora isto, vivia de jornal, links, notícias, às vezes contos.
Assim, voltei a ler, no cotidiano, há uns 4 meses e já estou no 4º livro. E pirando.
Minhas conexões e lembranças estão mais ágeis e eu não tomo notas em resumos ou
paro na página 57 perguntando quem são estes, porque eles estão agindo assim,
porque aconteceu aquilo. Sim, às vezes me perco, mas conectando sinapse a
sinapse, alcanço o fio da meada. É um puta prazer reconquistado 12 anos depois
de tudo, então, tem um valor muito pleno.
Há uns três anos, voltei a chorar. Feliz da vida, com esta resgate,
às vezes forçava a barra. Mas não era fácil. Chorava em algumas ocasiões
especiais. Meu algoritmo aqui ficou super seletivo e eu não me identificava ou enquadrava em nada. Pouca gente, alguns fatos particulares,
raríssimos pedaços de filmes ou livros (talvez porque não lia!). Mas já estava aceitando este fato, sem drama (até
porque não conseguiria chorar, não por esta razão!).
Há alguns poucos meses voltei a chorar com tudo, para tudo.
Cinema, literatura, música, beleza, pessoas, notícia, ações, reações,
realidade, lembranças (!!! aqui é celebração dupla, pela memória, em si e pelo
choro com ela!) palavras, descobertas, meu filho.
E a minha teoria é que a emoção tem papel forte na cognição.
Penso que há fatos que vou lembrar para sempre por causa da emoção neles
embutida. Mas como eu estava sem emoção, não lembrava porque não sentia.
Sabe a tão falada hoje, memória afetiva? Pois, a minha estava
desligada e agora é um torpor muito lindo e intenso. Lembrando coisas tão
significativas que ficaram em off por 12 anos. Está tudo em meu estômago, flores revolvendo, tão visceralmente que é impossível descrever. Tudo
tanto, suas músicas e palavras. É tanto resgate de uma vez que respirar fundo é
meu modus natural.
Algumas coisas, quero trazer de volta ao meu presente,
algumas estão bem na configuração de lembranças e outras ainda, quero fazer
futuro.
Trago outras vidas comigo e mais que nunca vou cumprindo meu
epíteto que Poli são várias!
Putz...fui transportada pelo espaço tempo com seu texto, Poli. Me despertou, me remexeu, me aprofundou de uma forma emocionante. Gratidão por tê-lo escrito e compartilhado comigo, com todos nós.
ResponderExcluirque com te ler e te saber, Aline! Gostoso descobrir afinidades feito a nossa, vida afora!
ExcluirPoli... que emoção ler este depoimento e poder acompanhar o processo. Te adoro e te admiro demais, sabe disso! Um beijo do tamanho da sua força!
ResponderExcluirÉ via de mão dupla, vc sabe, né, Gustavo? Todo amor que vem, volta na mesma medida! beijo grande entornando saudades!
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