Como nos sentidos e significados, na prática, vou me aprendendo budista
Isto não vai ser um texto inteiro, com todas as letras.
Será, sim, um excerto, com sua inteireza pontual. Sem qualquer pretensão de
esgotar um assunto, uma emoção, uma ocorrência, quero lhes contar de outros resgates
meus; estes agora, sensoriais.
Já andei comentando pelas páginas da Louca, e até por outros
espaços digitais, do momento intenso de
resgates, da memória, que venho vivendo. É tudo tanto que sequer consigo explicar
para dar uma noção da intensidade dos
meus dias, vivendo presente e vários fragmentos do passado, tudo ao mesmo tempo agora, junto e misturado!
Haja coração para lembrar, de uma vez, de 15 anos de
amizades, amores, lugares, temperos, pratos, cozinhas, trabalhos, países,
lugares, pessoas, shows, cantores, bandas, arte, affff, cansei, lembrei,
chorei! Muito!
Os resgates da memória vieram junto àqueles da emoção, como
já contei também por aqui. Tô chorando à beça e tá gostoso sentir as lágrimas
correndo com apertos maiores ou menores no
peito... ou flores na boca! Venho repetindo desde sempre que não vou
mudar ... eu sou é eu mesma e é muito gostoso resgatar um pedaço tão forte do eu mesma (ou do self, como queira, Jung!)!
Desta feita (!), os resgates que me movem, me assustam, mas
deslumbram, são os resgates sensoriais. Meus sentidos foram todos afetados pelo
trauma, cada qual à sua maneira.
No início não caminhava e hoje manco (eu não sei, mas é o que dizem). O lado direito
do meu corpo ainda não tem a mesma coordenação ou sensibilidade. Apertavam uma minha
mão e às vezes tinha a impressão de estarem apertando a outra. E ainda não sinto o
toque de um lado da mesma forma que do outro (tato), mas já melhorou 90%, digamos. Fruto, creio, da hemiplegia que tive (paralização da metade do corpo – metade direita). Tô nos últimos passos desta estrada e ela não vai dar em nada, ya lo sé!final deste caminho!
Também não ouvia bem de uma lado. Adivinha? O direito... mas
hoje escuto o dobro dos dois lados... cuidado
comigo! ;-)
Não sentia cheiro de nada e pior, quando sentia não
distinguia. Imagina: manjericão = cebolinha = gengibre. Perfume francês =
boticário = colônia. Incêndio = gasolina = álcool.
No paladar, tinha uma variável diferente. Sempre senti o
sabor de tudo MUITO BEM. Mas não distinguia nada, nunca. Minha teoria é que a
conexão dos terminais do paladar e do cérebro se desfizeram. Assim, eu sentia e
‘identificava’ um sabor. “hummm, que delícia. Este sabor eu conheço muito. Já
comi demais.” E afirmava: “gengibre”. “Não, manjericão”. Deu para entender o
nível?
Parêntese necessário: imagina a dificuldade para uma pessoa que gosta tanto de cozinha, feito eu. Não distinguir aromas. Distinguir sabores, mas não saber, sem provar E LER O NOME, o que é o que! Tenho que ir provando e fazendo, TUDO.
Na visão, durante muito tempo enxergava duplicado. Culpa do olho direito. Acredito (teoria minha) que em função da hemiplegia do lado direito. Mas isto passou há uns 4 ou 5 anos, não sei precisar.
Pois é, tato, visão e audição já tinham melhorado. Agora
foram paladar e olfato, no mesmo dia, em momentos diferentes.
Almoçando uma tilápia toda cheia de condimentos, com
pimentão vermelho e amarelo, cebola roxa, gengibre e pimenta do reino, distingui a pimenta do reino moída na hora, pela maneira que a senti intensa no
prato. É uma diferença muito sutil para um paladar desconectado feito o meu, que sentia, mas não distinguia, NUNCA.
Percebi, perguntei e confirmei. (como o seu uso não é hábito em casa, não a moída na hora, minha
percepção foi deveras autêntica). Senti o sabor e dei nome aos bois! Putzgrila!
Voltando para o quarto depois do almoço senti um cheiro de
limpeza gigante. Um cheiro que não nada há 12 anos. Perguntei Fatinha e
ela me contou que usou um produto de limpeza xyz, que ela já tinha usado trocentas outras vezes pela
casa toda, incluindo meu quarto. Mas eu nunca senti nada nenhuma vez e ali senti, INSTANTANEAMENTE. Foi só pisar no quarto. Né pouco não, tá?!
Olfato e paladar, no mesmo dia, de uma vez. Deixa eu contar para vocês. Tô
virando budista! Aprendendo valores em uma escala toda diferente de tudo que
aprendemos desde sempre. Ando
conseguindo olhar através das coisas e enxergar significados. Significados
perdidos, ausência sentida e confirmada, significados reencontrados ou mais
forte, reconstruídos. Poliana que sou, isto tem me feito muito bem.
E é tão gostoso aprender na pele, nas vísceras, os múltiplos
sentidos da vida. E pouco a pouco, resgatá-los. Sai do corpo, de sua mecânica,
passa pelos sentidos e sua orquestração conjunta e atinge os afetos e sentimentos
porque são onde pousam nossos sentidos plenos e insaciáveis.
Hoje, me sinto inteira e sinto, muitas vezes, os sentidos sincrônicos, em uma sinestesia muito completa. Uma música tem sabor e aroma. A comida dança em meu paladar, embalando a música que aquela memória também resgata. Tem som que toca a gente, revira o estômago e o coração. Eu ando de cara para as lembranças e os sentidos e os sinto todos junto a mim, todo o tempo.
Não mexe comigo, que eu não ando só!
(isto era para ser um excerto mas 37 minutos depois, olha o
tamanho do texto que saiu – é o tanto que isto tudo tá me fazendo bem!)
"Não mexe comigo" mexo simmmm e sempre kkk
ResponderExcluirAMIGA de mi corazon, estou muito feliz pela felicidade que estes resgates estão te trazendo.
Love youuuuuuu
é uma música da Bethânia! não mexe comigo, que eu não ando só... mas eu ando contigo! e a gente se provoca e se aprende, cotidianamente! ;-) tão longe, tão perto!
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirSempre lindo tudo que vc escreve minha amiga! Muito feliz por vc e seus resgates! Deus honra sempre! Vc é merecedora de todas essas lagrimas de alegria! Bjs...
ResponderExcluirQuem é?!🤔
ExcluirE que venha um temporal de resgates mulher! e que você continue compartilhando, leio os seus textos e escuto a sua voz 🥰
ResponderExcluirQue gostoso te ouvir, Ivonete! Tô chorando aqui, pra vc!!! ;-) beijo grande com saudades!
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