Anna é uma menina de nove anos, mimada pelo conforto da classe média parisiense que tem que se adaptar à nova realidade "igualitária" que pais instituem, ao ingressar no comunismo.
Após uma viagem ao Chile de Allende, o pai advogado e a mãe escritora decidem se engajar na luta ‘comum’ contra os fascistas do mundo. Assim, com o pai atuando como intermediário do movimento para eleger Allende presidente do Chile, eles saem de uma casa enorme, confortável e luxuosa para outra bem apertada. Dispensam a babá cubana, avessa à revolução de Fidel e resolvem contratar, como ajudantes nas tarefas domésticas, refugiadas de países como Grécia e Vietnã, militantes que buscam abrigo na França.
Assim, Anna logo conclui que ‘a culpa é de Fidel’ e, juntamente a François seu irmão, segue tentando se adaptar às novas condições que a adesão dos pais ao Comunismo trazem para a vida deles. Se revoltando, brincando… e aprendendo.
A Culpa é do Fidel, dirigido por Julie Gavras é, sobretudo, um filme bem-humorado, com tiradas inteligentes e engraçadas. A certa altura, François propõe que eles brinquem de Franco contra Allende, mas ele quer ser Allende porque é o mocinho (dos comunistas!). Ou quando Ana tenta brincar de lojinha com os amigos ‘vermelhos barbudos’ dos pais, aplicando altos lucros, ironicamente contrária à ideologia ali dominante. Os temas comunistas passam a compor seu repertório ‘lúdico infantil’.
Comédia política de humor refinado, o filme guarda forte mérito na neutralidade. Com um pano de fundo no qual figuram Franco, De Gaulle e Salvador Allende, apenas expondo diferentes ângulos e pontos negativos ou positivos entre o comunismo e o capitalismo, o filme deixa qualquer opção ‘partidária’ de fora, a cargo do expectador. Como fica evidente em um (entre vários) questionamentos de Anna perguntando ao pai de sua certeza na adesão ao Comunismo diante de dúvidas anteriores: “Como você pode ter certeza de que não está enganado agora?”
Os pais se desdobram para lhe mostrar a importância do momento histórico. Com isto e com a convivência com aqueles temas e aquelas pessoas ela amplia sua visão de mundo e começa a se alimentar de um senso de contestação.
Um trabalho leve, emocionante e inteligente.